ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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16 de fevereiro de 2011

olhos curados

A liturgia da Missa de hoje traz o relato de mais um milagre realizado por Jesus: a cura de um cego em Betsaida (Mc 8, 22-26). É interessante a semelhança de varios detalhes neste milagre com a cura de um surdo que falava com dificuldade, lembrada na passagem do Evangelho (Mc 7, 31-37), da sexta-feira passada (leia aqui a reflexão). Mais uma vez o Senhor retira o doente para fora da multidão e dedica-lhe uma atenção especial e, de novo, utiliza a sua própria saliva como uma espécie de "remédio". Igualmente, surge uma impressão de que Jesus tivesse alguma dificuldade em realizar esta cura ou, então, como se o caso deste cego (como foi o daquele homem surdo) fosse especialmente complicado. Repito, aqui também, que tal interpretação deve ser descartada pelo fato de Jesus ser Deus todo-poderoso. Certamente, como escrevi no texto sobre a cura do homem surdo, a mensagem do Evangelho revela o amor atencioso do Senhor e a verdade de que Ele se dedica a cada um de nós de maneira especial, individual e pessoal. Por mais que tenha tratado com o mesmo amor toda a humanidade, nunca é uma relação com a "massa", mas sim, como se cada pessoa fosse a única no mundo. O que, de fato, chama atenção no texto sobre o cego de Betsaida, é o diálogo de Jesus com ele: “Estás vendo alguma coisa?” O homem levantou os olhos e disse: “Estou vendo os homens. Eles parecem árvores que andam”. Então Jesus voltou a por as mãos sobre os olhos dele e ele passou a enxergar claramente. Ficou curado, e enxergava todas as coisas com nitidez. (vv. 23b-25) Existe uma diferença enorme entre "enxergar todas as coisas com nitidez" e "ver os homens que parecem árvores que andam". Devemos admitir que, ainda que não necessariamente em forma de árvores, enxergamos as pessoas de (ou em) diversas formas. É que a forma ofusca a nossa visão da essência (ou do conteúdo). Assim, vemos negros e brancos, jovens e velhos, pobres e ricos, comuns e famosos, homossexuais e heterossexuais... e assim por diante. E, a partir desta nossa visão parcial, julgamos, classificamos e desprezamos os outros por vários motivos. Nossos olhos (e o nosso coração) precisam ser curados"

Esta passagem do Evangelho lembra-me a pregação de um sacerdote (!). Ele falava de uma mulher, chamada Marta, católica praticante e atuante na Igreja que participava de encontros da Renovação Carismática e até exercia um ministério de cura interior. A sua experência religiosa consistia, entre outras coisas, em possuir o "dom de escuta", ou seja, de receber revelações e inspirações divinas e, misteriosamente, ouvir Jesus falando com ela. Dedicava muito tempo à oração e ao atendimento das pessoas. Tinha, entretanto, um sério problema (como ela achava), bem dentro de casa. A sua filha adolescente, Michelle, havia revelado recentemente a sua "identidade homossexual". A mãe ficou apavorada quando ouviu Michelle dizer: "Eu sou lésbica". Evidentemente, o nome da filha não saía mais das orações de Marta. Em varios momentos do dia e, especialmente na hora da Comunhão diária, a mulher repetia com simplicidade e com muita confiança no seu angustiado coração: "Senhor! Toma conta da Michelle!". Alguns dias mais tarde, de repente, logo depois de receber Jesus na Eucaristia e de ter repetido diversas vezes a sua jaculatória: "Senhor! Toma conta da Michelle!", Marta ouviu no coração aquela voz que conhecia bem e amava tanto: "Marta! Quem é Michelle?". Mulher ficou surpresa e não foi com o fato de ouvir Jesus, mas com esta pergunta. Pensou, já respondendo a Ele: "Como assim, Senhor? O Senhor sabe de todas as coisas e conhece todas as pessoas... Michelle me disse que é... nem consigo repetir esta palavra. Onde foi, Senhor, que eu errei como mãe? E o que as pessoas vão dizer? Todos aqui, na igreja, me conhecem... O que é que eu faço agora, Senhor? ...Jesus, o Senhor pode curá-la?". Depois ficou quieta, como já tinha aprendido, há muito tempo. Era a hora de ouvir Jesus falar. Desta vez Ele demorou um pouco mais para responder para, finalmente, repetir: "Marta! Quem é Michelle?". A mulher sentiu um calafrio e uma sensação de insegurança. "Entendo... não sou mais digna de servir ao Senhor nem de ouvir as suas palavras... Com a filha desse jeito, acabou tudo..." - pensou. A voz de Jesus, agora com mais força e maior ainda ternura, repetiu: "Marta! Quem é Michelle? É preciso que você responda não a mim, mas a si mesma!". "Senhor!" - quase gritou Marta - "Michelle é a minha filha muito amada!". Jesus disse a ela: "Marta! Vou deixar agora algumas coisas muito bem claras para você. Primeiro: Michele, antes de tudo que se possa dizer dela, ou o que ele mesma queira dizer, é a filha muito amada do Pai Eterno. Foi também por ela que derramei o meu sangue na cruz. Segundo: realmente ela é a sua filha amada e somente a partir desta verdade é que você deve olhar a ela. Todo o resto é... o resto. Agora: não diga que você não é mais digna de servir a mim e a minha Igreja. Na verdade, ninguém é digno, mas sou Eu quem escolhe e chama para o ministério. Quero curar os seus olhos e o seu coração para que você sempre veja as pessoas assim como Eu as vejo: como filhos e filhas, muito amados por Deus". Marta sentiu uma paz imensa no seu interior. Todas aquelas preocupações desapareceram, enquanto surgia outra, diferente: como agora expressar este novo amor, nascido no coração curado, a sua filha. "Ela precisa muito de mim" - pensou. E disse as velhas palavras de nova maneira: "Senhor, toma conta da Michelle, tua e minha filha muito amada. Toma conta de mim, também!".

Um comentário:

  1. Está com muito texto acho que deviam resumir mais e por mais imagens pois o texto fica cansativo.

    Obrigado

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