A liturgia deste VII domingo do tempo comum traz o chamado à santidade. É um desafio para a nossa mente: é possível ser como Deus? A primeira leitura (Lv 19, 1-2. 17-18) diz: Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo. E logo explica: Não tenhas no coração ódio contra teu irmão. Repreende o teu próximo, para não te tornares culpado de pecado por causa dele. Não procures vingança, nem guardes rancor dos teus compatriotas. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Portanto, "ser como Deus" significa antes de tudo: amar. Reforça esta ideia o salmo responsorial (Sl 102), dizendo que Deus é indulgente, favorável, paciente, bondoso e compassivo. Não nos trata como exigem nossas faltas, nem nos pune em proporção às nossas culpas. E ainda: ele te perdoa toda culpa, e cura toda a tua enfermidade; da sepultura ele salva a tua vida e te cerca de carinho e compaixão. Parece, então, que basicamente é isso: amar. Jesus no Evangelho (Mt 5, 38-48) define o limite (ou a falta de limite) deste amor: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos. E conclui: Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito! A primeira impressão é que a Palavra de Deus tenha exigido algo impossível (o que desencoraja até os mais corajosos). Entretanto, acredito eu, a chave para uma compreensão dessas passagens está na resposta à pergunta que vem (quase que automaticamente), diante das expressões "ser santo ou perfeito como Deus". Então: como é Deus (ou quem Ele é). A mesma pergunta fez a Deus Moisés no deserto. Tudo bem, ele perguntou qual era o seu nome, mas Deus deu logo uma (bastante misteriosa) resposta que revelava tanto o nome como a sua natureza divina: "Eu sou aquele que sou" (Ex 3, 14). "Juntando as peças", podemos acrescentar aqui ainda a revelação feita por Deus através do Apóstolo João (em 1Jo 4, 16b): Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele. Um pouco antes (v. 12), o mesmo texto diz: Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito. É claro que continua aberta a questão de como amar de fato (ou como aprender a amar verdadeiramente), mas a mensagem deste domingo parece dizer: não tenha medo de amar! Outra coisa que me veio na mente é que Deus é perfeito em "ser Deus" e, por isso mesmo, quanto mais "eu sou o que sou", aproximo-me dele. Isso significa, também, uma necessidade de "autoconhecimento". Preciso descobrir a minha identidade, conhecer-me assim como Deus me conhece, não tentar fugir daquilo que sou, nem fingir ser outra pessoa. Algo neste sentido falou hoje o Papa Bento XVI: "Mas quem poderia tornar-se perfeito? A nossa perfeição é viver com humildade como filhos de Deus, realizando concretamente a sua vontade" (fonte: portal da canção nova - aqui). A humildade mencionada pelo Papa tem como um dos sinônimos principais a verdade. A nossa perfeição, portanto, é viver a verdade do nosso ser.
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Há 46 minutos
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