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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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10 de fevereiro de 2011

Escolástica e outras mulheres

Hoje a liturgia está cheia de mulheres: na I leitura (Gn 2, 18-25), no Salmo (127[128]) e no Evangelho (Mc 7, 24-30) e ainda na memória litúrgica de Santa Escolástica, irmã gêmea de São Bento (nasc. em 480 na Itália). A minha reflexão vai hoje em direção de mulher, ou melhor, de uma visão da mulher que perdura por séculos, desde os tempos do Antigo Testamento, até os dias de hoje. É, sem dúvida, uma visão injusta, preconceituosa e totalmente contrária ao desígnio de Deus. E, para piorar, muitos pontos desta visão encontram argumentos na Sagrada Escritura, quer dizer, na interpretação errônea da Palavra de Deus. Comecemos pela frase lida hoje na Missa: da costela tirada de Adão, o Senhor Deus formou a mulher e conduziu-a a Adão. (Gn 2, 22) Muitos tomam esta revelação para afirmar a superioridade do homem em relação à mulher, esquecendo das palavras do próprio Criador, presentes na mesma passagem: Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele. (Gn 2, 18) Graças a Deus, a humanidade e, principalmente, a Igreja, já avançaram nesta questão, pelo menos na teoria. É bom lembrar a Carta Apostólica de João Paulo II sobre a dignidade e a vocação da mulher ("Mulieris dignitatem", leia aqui). Infelizmente, a Igreja dos tempos de Santa Escolástica, estava ainda longe deste reconhecimento da dignidade feminina. O próprio Evangelho, igualmente mal-interpretado, pode criar a impressão de Jesus que dá pouca atenção à mulher, quem sabe, pelo simples fato de ser uma mulher e ainda uma pagã. Mais uma vez, cabeças duras de muitos homens, parecem ter argumento para o seu "machismo". Eu leio esta passagem (e todas as outras) a partir da Pessoa de Jesus. O Senhor conhecia os corações e os pensamentos de todos. Sabia, portanto, qual era o tamanho de fé, coragem, determinação e do amor materno daquela mulher. Sabia, também, como eram pequenos na mesma fé, coragem, determinação  e no amor, os seus discípulos homens. Na minha opinião, Jesus deu-lhes uma lição dessas virtudes, pondo à prova aquela mulher. Notemos como ela entra imediatamente na "linha de pensamento" de Jesus, retomando a figura de crianças e cachorrinhos. Em sua humildade não se ofendeu (o que aconteceria, com certeza, caso algum dos apóstolos, ou homens em geral, estivesse no lugar dela). Ambos, Jesus e a mulher, acabam dando um espetáculo de fé e comunhão. Algo parecido aconteceu com a Samaritana e tantas outras mulheres. E o que dizer sobre a "bendita entre todas as mulheres", Maria Santíssima? Nenhum dos homens, ao longo dos séculos, chegou perto do nível de sua fé, sua entrega, seu amor. Apesar disso tudo, as gerações inteiras de homens cristãos (seguindo seus "irmãos mais velhos", os judeus), passaram a vida tratando as mulheres como coisas que só existiam para satisfazer seus caprichos masculinos. Até o Salmo de hoje pode ser lido de maneira equivocada: A tua esposa é uma videira bem fecunda no coração da tua casa (Sl 127[128], 3). Se é uma videira, então posso cortá-la à vontade.
Conclusão: a história nos mostra como uma leitura errônea da Bíblia é capaz de sustentar, por séculos, a postura de preconceito, discriminação e injustiça. A esperança vem da vitória (ainda parcial) das mulheres que, depois de milênios inteiros de sofrimento, começam a conquistar, aos poucos, o espaço designado-lhes pelo próprio Criador. Um dia isso vai acontecer, também, com os homossexuais. Que tal começarmos pela revisão de nossas interpretações bíblicas?
Para terminar, cito um pequeno trecho da Carta Apostólica de João Paulo II sobre a dignidade da mulher:
O gênero humano, que se inicia com a chamada à existência do homem e da mulher, coroa toda a obra da criação; os dois são seres humanos, em grau igual o homem e a mulher, ambos criados à imagem de Deus. (...) Na descrição de Gênesis 2, 18-25, a mulher é criada por Deus «da costela» do homem e é colocada como um outro «eu», como um interlocutor junto ao homem, o qual, no mundo circunstante das criaturas animadas, está só e não encontra em nenhuma delas um «auxiliar» que lhe seja conforme. A mulher, chamada desse modo à existência, é imediatamente reconhecida pelo homem «como carne da sua carne e osso dos seus ossos» (cf. Gn 2, 23) (...) O texto bíblico fornece bases suficientes para reconhecer a igualdade essencial do homem e da mulher do ponto de vista da humanidade. Ambos, desde o início, são pessoas, à diferença dos outros seres vivos do mundo que os circunda. A mulher é um outro «eu» na comum humanidade. (Mulieris Dignitatem, n. 6).

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