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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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6 de fevereiro de 2011

pés de barro

O profeta Daniel tinha, entre outros, o dom de interpretar os sonhos. Certa vez o rei Nabucodonosor contou-lhe uma assustadora visão noturna: Era uma estátua, grande como ela só, alta e muito brilhante. (...) A cabeça da estátua era de ouro maciço, o peito e os braços de prata, o ventre e as coxas de bronze, as canelas de ferro e os pés eram parte de ferro e parte de barro. (Dn 2, 31-33). Esta imagem me veio à memória quando pensei sobre a questão de vários "estereótipos" que circulam por aí e influenciam a vida de tanta gente, mas tendo os "pés de barro", ameaçam ruir e arrastar consigo uns e soterrar outros - aqueles que construíram a sua visão do mundo a partir de princípios duvidosos ou mal interpretados. Como esta reflexão pretende entrar no campo da Palavra de Deus, explico logo: nunca achei a Bíblia um "princípio duvidoso", pois acredito que é a Palavra de Deus. O que acho duvidoso é a maneira de interpretá-la, "esticando" algumas passagens às afirmações pré-fabricadas. Infelizmente, até na própria Igreja, observo esta espécie de "utilitarismo bíblico". Algumas interpretações entraram na mentalidade popular (sem serem identificadas por seus usuários!) e continuam alimentando opiniões equivocadas, injustas e absurdas.
Uma das passagens bíblicas relacionadas à suposta reprovação de homossexualidade pela Bíblia (entende-se: por Deus) é aquela do Livro de Gênesis 1, 27: Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou. Depois vem toda a explicação sobre o homem e a mulher que são iguais e complementares, em função de sua (eventual!) vocação ao matrimônio. Até aqui, tudo bem, mas existe aqui uma ideia embutida que leva à deduzir que só pelo fato de Deus ter criado o homem e a mulher, a homossexualidade é uma abominação. Talvez porque um homossexual tenha sido "menos homem"? Vejo esta questão presente tanto nos comentários teológicos, quanto em diversos textos de psicólogos, educadores e outros profissionais (homossexuais e homofóbicos, igualmente). A minha opinião é que está sendo cometido aqui um equívoco grave. Por que razão se põe em dúvida a masculinidade de um gay e a feminilidade de uma lésbica? Um homem homossexual, por mais efeminado que seja em sua expressão, não deixa de ser homem. E uma mulher homossexual, por mais "masculina" que seja no seu jeito de andar ou falar (por exemplo), não deixa de ser mulher. É apenas um homem e uma mulher - ambos homossexuais (como existem brancos, negros, orientais, altos e baixos, loiros e carecas, coléricos e melancólicos, etc.). Será que o fato de um homem sentir atração por outro homem ou ter um jeito mais delicado, faz com que ele seja menos homem? O que, afinal, é a masculinidade? Esta confusão leva muitas pessoas a dizer, por exemplo: "O fulano deixou de ser gay e virou homem" (ofereco um prêmio para quem encontrar uma frase mais idiota que essa!). Ignorando, no momento o "fato" em questão (aquele de o fulano "deixar de ser gay"), pergunto: antes de "virar homem", esse fulano era o que? Eu sei que um assunto diferente, delicado e sério é a identidade de transsexuais ou transgêneros e não vou entrar nessa questão agora. Só quero dizer que a teoria de um Deus que condena a homossexualidade porque tinha criado homem e mulher, tem os pés de barro.

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