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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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14 de janeiro de 2011

Pastoral para Homossexuais

Continuo a reflexão inspirada na passagem do Evangelho de hoje (Mc 2, 1-12), iniciada nesta madrugada (leia aqui ou desca um pouco no blog). Talvez por ter sido a madrugada, escrevi que esta passagem bíblica "é a imagem, ou melhor, a "Carta Magna" (a constituição) de uma verdadeira Pastoral para Homossexuais". Não retiro as minhas palavras, embora sejam, talvez, enfáticas demais. Acrescento logo: esse não é o único texto do Evangelho que me leva a compreender melhor, ou idealizar, uma Pastoral voltada aos Homossexuais: a necessidade de sua existência, a estrutura e a metodologia. Em outras ocasiões proponho-me desenvolver esta reflexão. Volto, por ora, à cena com o paralítico, trazido pelos quatro amigos, até Jesus. Uma coisa me impressiona devido à diferença em relação a tantos outros casos de cura realizada por Jesus. Com frequência o Senhor revela a fé daquela pessoa curada como - digamos - um "veículo" da graça acontecida. Ou, então, como a condição necessária para tal cura. Mais ainda: como que "saíndo de cena", Jesus aponta a fé como a própria causa do milagre. Vejamos alguns exemplos. O centurião romano que pedia a cura para seu servo amado (em breve uma reflexão especial sobre este caso), ouviu as palavras do Senhor admirado: "Nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé" (Lc 7, 9) e "seja-te feito conforme a tua fé" (Mt 8, 13). À mulher que sofria de hemorragia disse: "Tua fé te salvou" (Mt 9, 22; Mc 5, 34; Lc 8, 48). O mesmo declarou ao cego Bartimeu (Mc 10, 52; Lc 18, 42) e na versão de Mateus (9, 29) a dois cegos: "Seja-vos feito segundo vossa fé". Temos ainda a cananéia que pedia a libertação do demônio para sua filha (Mt 15,29): "Ó mulher, grande é a tua fé! Seja-te feito como desejas", a pecadora perdoada (Lc 7, 50), o único dos dez leprosos curados que voltou para agradecer (Lc 17, 19). Sempre: "Tua fé te salvou!" Tua fé. No milagre com o paralítico em questão acontece algo diferente. Diz o Evangelista que os quatro homens abriram o teto, bem em cima do lugar onde ele estava e, pelo buraco, desceram a maca em que o paralítico estava deitado. Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: “Filho, os teus pecados são perdoados” e depois: "eu te digo: levanta-te, pega a tua maca, e vai para casa!" (Mc 2, 4-5 e 11), ou seja, a fé dos amigos contribuiu para a cura daquele homem. Aqui está a essência de todo e qualquer projeto ou trabalho pastoral. Inclusive da Pastoral para Homossexuais. Como falei na postagem anterior, longe de mim identificar a homossexualidade com a paralisia. Mas existe, sim (e entre os homossexuais numa dimensão bem preocupante) a paralisia espiritual que se manifesta em várias formas: o afastamento da Igreja, o abandono da oração e da Bíblia, a sensação de exclusão ou excomunhão e, não raro, uma postura de desprezo, em relação a tudo que está ligado à Igreja, ao cristianismo e à religião em geral. A consequência mais grave e dolorosa é o afastamento do próprio Deus. A perda da fé. O papel da Pastoral, portanto, é levar aquela pessoa (que tem suas razões para tal jeito de ser) até Jesus. Fazer com que aconteça este encontro pessoal com o Salvador. Ele tem o poder de perdoar os pecados (quem de nós não precisa disso?) e de dizer: "Levanta-te e vai para casa" (vai e leva a tua vida, sê feliz, íntegro, realizado). É um caminho, sem dúvida, longo, acidentado, desafiador, mas único. E necessário. É um caminho "pelo amor de Deus". E aos irmãos.

2 comentários:

  1. Interessante o teu desenvolvimento! Bem articulado, levantando bons argumentos. Mas uma Pastoral para homossexuais não seria girar num uróbulo? uma espécie de morder e assoprar, uma vez que a igreja condena a homossexualidade?

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  2. Realmente parece (e muito) que a Igreja condena a homossexualidade, mas de fato (pelo menos no Catecismo e em outros documentos) recomenda uma atitude de acolhimento em relação aos homossexuais e condena todo tipo de "discriminação injusta" (é o tema à parte, o que seria uma "discriminação justa"). Tudo bem, é uma teoria, pois na prática, muitos representantes da instituição chamada Igreja "respiram" uma generosa e criativa homofobia. Mas, para mim, "os representantes" (mesmo que se inclua aqui até o Papa), ainda não são um sinônimo da Igreja, ou seja: a Igreja é maior do que esta limitação. É mais ou menos como aquela corrida de Pedro e João ao túmulo de Jesus. João que representa "o carisma" chega antes de Pedro ("a instituição") e espera por ele. Ou, então, como um "maluco-beleza", do qual todos desconfiavam na época, e que se tornou a referência e a inspiração ao longo dos séculos. Chamava-se Francisco de Assis. Longe de mim qualquer comparação dessas figuras com a minha pessoa (até porque eu não sou um precursor, mas alguém que apoia as tímidas iniciativas já existentes). Afinal, Galileu, também foi condenado, sem mencionar tantos outros. Também acho que se fosse fácil demais, não teria tanto valor. Obrigado pelo comentário!

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