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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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13 de janeiro de 2011

Jesus e o leproso

O Evangelho lido hoje (Mc 1,40-45) conta sobre um leproso [que] chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado!” No mesmo instante, a lepra desapareceu, e ele ficou curado. Como sempre, além de relatar fatos concretos, o Evangelho traz uma mensagem. A lepra (conhecida também como hanseníase, morfeia, mal de Hansen, mal de Lázaro), até hoje assusta, ainda que - graças ao avanço da medicina - não seja mais considerada como uma doença incurável e fatal (aquela que leva, inevitavelmente, à morte). Nos tempos de Jesus, entretanto, além de ser realmente incurável, a lepra trazia também a marca de maldição (castigo pelos pecados) e, especialmente na mentalidade dos judeus, a "impureza" física refletia o estado espiritual da pessoa afetada. De acordo com as normas da lei religiosa, o leproso era obrigado a permanecer nos lugares afastados da população "normal" e, caso precisasse passar por uma via pública, tinha que fazer barulho e gritar: "Impuro! Impuro!". A simbologia do leproso é, portanto, muito clara: é o maldito, o excluído. Neste contexto, a leitura do texto revela, em primeiro lugar, a fé (e a coragem como sua expressão concreta) daquele homem que "chegou perto de Jesus". Interessante, também, é a descrição, um tanto imprecisa, feita por Marcos. O Evangelista diz que o homem "pediu", mas o que realmente temos aqui, é uma firme profissão de fé, uma impressionante certeza: "Se queres, tens o poder de curar-me". Jesus reage imediatamente. Lembramos que cada gesto, cada atitude de Cristo é, também, um ensinamento. Depois de curar o leproso, Jesus faz dois pedidos (ou dá duas ordens) a ele: Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles! (Mc 1, 44) A primeira questão, talvez, esteja associada ao cuidado de Jesus de evitar o sensacionalismo exagerado e a distorção de sua identidade pela multidão entusiasmada, ou seja, para que a sua missão não fosse reduzida a de um "curandeiro" (lembramos a reação de Jesus depois da multiplicação dos pães: ele se escondeu do povo que queria proclamá-lo rei. Confira Jo 6,15). O segundo pedido, feito ao "ex-leproso", certamente ia ajudá-lo no retorno à sociedade, através do reconhecimento de sua cura pelas autoridades.
Pois bem. Para minha "leitura existencial" (de um homossexual e católico), a mensagem de hoje fica muito clara e consoladora. Jesus veio para nos curar, para reconhecer e fazer reconhecida a nossa dignidade, para nos dar, de novo, o lugar no meio da sociedade, para abolir todas as exclusões. E quando Ele diz "Eu quero, fica curado", não se refere apenas a um toque de sua mão, mas a todo o sacrifício que realizou de si próprio na cruz, para nos dar a salvação. Ele se fez um excluído, condenado, amaldiçoado (um "leproso"!), só para oferecer a todos a inclusão, a aceitação, a bênção e uma vida digna, livre e plena. São Marcos conclui o seu relato: Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. (Mc 1, 45) Como se Jesus trocasse de lugar com o leproso...

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