OS MAGOS
TEXTO BÍBLICO: Mt 2, 1. 11
Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do oriente. (...) Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra.
LEITURA/REFLEXÃO
1) O último dia da oitava de Natal traz a misteriosa cena com os magos do oriente. Celebra-se, ao mesmo tempo (por uma coincidência, neste ano) a festa da Epifania (em grego: "manifestação"). A tradição e a piedade popular atribuem aos magos a identidade de reis (não mencionada no Evangelho), provavelmente por influência do Salmo 71(72) [Os reis de Társis e das ilhas lhe trarão presentes; os reis da Arábia e de Sabá oferecer-lhe-ão seus dons. v. 10]. Também o número destes visitantes (três) é fruto da piedosa imaginação sugerida, talvez, pelo número de presentes. O sentido litúrgico e teológico leva-nos a contemplar o caráter universal da salvação que Jesus trouxe. De certo modo, os magos representam “todos os povos”, com suas tradições, culturas e histórias diferentes. Cristo veio a todos. Uma verdade que só aos poucos foi conquistando espaço no coração dos seguidores de Jesus (e, ainda hoje, continua encontrando resistência). E esta afirmação sobre a Igreja surpreende, porque na sua própria constituição está o envio (ou a ordem) de Jesus que, pouco antes de sua Ascensão, disse: Ide, pois, e ensinai a todas as nações (Mt 28, 19). Na versão de Marcos, a ordem do Senhor é ainda mais ampla: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura (Mc 16, 15). Lucas acrescenta: Abriu-lhes então o espírito, para que compreendessem as Escrituras (Lc 24, 45) que era necessário tudo isso que aconteceu com Ele e que se pregasse, em seu nome, a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações (cf. Lc 24, 47). Lembramos, entretanto, as dificuldades de Pedro, mesmo depois de ter recebido o Espírito Santo em Pentecostes (leia At 10, 9ss). O Senhor precisou usar de “efeitos especiais” para convencê-lo (Em verdade, reconheço que Deus não faz distinção de pessoas; At 10, 34) e levar os irmãos a esta convicção: Portanto, também aos pagãos concedeu Deus o arrependimento que conduz à vida! (At 11, 18). Também Paulo obteve esta descoberta em circunstâncias dramáticas: Era a vós [judeus] que em primeiro lugar se devia anunciar a palavra de Deus. Mas, porque a rejeitais e vos julgais indignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os pagãos (At 13, 46). E, quando abraçou este princípio, tornou-se Apóstolo dos Gentios. E da própria causa. Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus. (Gal 3, 28), pois Deus deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm 2, 4).
2) Quando Paulo fala de “judeu e grego, escravo e livre, homem e mulher” (Gal 3, 28), usa os termos e conceitos daquela época. Hoje, evidentemente, não seriam mais “escravo e livre”, mas talvez “analfabeto e letrado”, “empregado e desempregado”, “rico e pobre”, “branco e não-branco”, “hetero- e homossexual”. Com outras palavras: as “categorias” de pessoas que, em Cristo, foram “anuladas”, para formar um só povo, uma só família, dependem da mentalidade de cada época e geração. Podemos dizer que Jesus é uma denúncia constante de desigualdades e exclusões. Enquanto, aos olhos humanos, existem sempre alguns “estranhos”, como se apresentam, exatamente, os magos do oriente (os estrangeiros), Deus mostra, através deles que, para Ele, todos são importantes. Importantes porque amados. E a presença de “estranhos” serve para quebrar a rotina, para despertar e sensibilizar.
3) Há séculos, existem interpretações do significado de cada um dos presentes trazidos pelos magos. A mais difundida decifra todos estes dons como uma expressão (ou profissão) de fé. O incenso é visto como o sinal de fé na divindade do recém-nascido, o ouro como o reconhecimento de sua realeza e a mirra (naquela época usada nos procedimentos médicos e nos funerais) expressa a fé na humanidade verdadeira do Messias e alude o desígnio divino de seu sofrimento e morte. Com outras palavras: em nome de toda a humanidade, os magos do oriente, adoraram Jesus e professaram a sua fé, reconhecendo nele verdadeiro Deus e verdadeiro homem, o rei do universo e salvador do gênero humano, nascido para se oferecer no sacrifício redentor.
4) Animado com a presença dos misteriosos visitantes diante da manjedoura de Jesus, vou também eu, o estranho como eles. Compreendo que eles trouxeram algo que possuíam, dentro das suas condições. Eu não vou levar nem ouro (não tenho), nem mirra (não sei onde encontrar), nem mesmo o incenso (vou deixar aos padres esta tarefa). Simbolicamente, porém, vou apresentar tudo isso. A minha adoração e louvor ao meu Senhor, Deus e Rei. Vou levar, também, a minha homossexualidade, com tudo que ela significa para mim. Com suas sombras, angústias, dúvidas e medos. Mas, sem dúvida, com uma enorme gratidão pela graça de autoconhecimento e auto-aceitação. Com toda sensibilidade, própria desta condição. E, principalmente, com a mais preciosa experiência de amar e ser amado. Vou levar até Jesus, também, toda essa luta pela dignidade, respeito e reconhecimento que uma multidão dos meus irmãos e irmãs, no mundo inteiro, trava incansavelmente, enfrentando incompreensões, zombarias, humilhações, agressões e a própria morte. Entrego tudo isso nas mãos do Menino de Belém, confiante de que nenhum esforço ou sacrifício será em vão. E desejo muito que todos estes meus irmãos e irmãs, os homossexuais, fizessem a mesma visita a Jesus. Pois, quem o encontra, volta para casa por outro caminho, como os magos do oriente (confira Mt 2, 12).
ORAÇÃO
Hoje não podia ser diferente. O louvor e a súplica inspiram-se no trecho do Salmo 71(72), 10-14:
Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do oriente. (...) Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra.
LEITURA/REFLEXÃO
1) O último dia da oitava de Natal traz a misteriosa cena com os magos do oriente. Celebra-se, ao mesmo tempo (por uma coincidência, neste ano) a festa da Epifania (em grego: "manifestação"). A tradição e a piedade popular atribuem aos magos a identidade de reis (não mencionada no Evangelho), provavelmente por influência do Salmo 71(72) [Os reis de Társis e das ilhas lhe trarão presentes; os reis da Arábia e de Sabá oferecer-lhe-ão seus dons. v. 10]. Também o número destes visitantes (três) é fruto da piedosa imaginação sugerida, talvez, pelo número de presentes. O sentido litúrgico e teológico leva-nos a contemplar o caráter universal da salvação que Jesus trouxe. De certo modo, os magos representam “todos os povos”, com suas tradições, culturas e histórias diferentes. Cristo veio a todos. Uma verdade que só aos poucos foi conquistando espaço no coração dos seguidores de Jesus (e, ainda hoje, continua encontrando resistência). E esta afirmação sobre a Igreja surpreende, porque na sua própria constituição está o envio (ou a ordem) de Jesus que, pouco antes de sua Ascensão, disse: Ide, pois, e ensinai a todas as nações (Mt 28, 19). Na versão de Marcos, a ordem do Senhor é ainda mais ampla: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura (Mc 16, 15). Lucas acrescenta: Abriu-lhes então o espírito, para que compreendessem as Escrituras (Lc 24, 45) que era necessário tudo isso que aconteceu com Ele e que se pregasse, em seu nome, a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações (cf. Lc 24, 47). Lembramos, entretanto, as dificuldades de Pedro, mesmo depois de ter recebido o Espírito Santo em Pentecostes (leia At 10, 9ss). O Senhor precisou usar de “efeitos especiais” para convencê-lo (Em verdade, reconheço que Deus não faz distinção de pessoas; At 10, 34) e levar os irmãos a esta convicção: Portanto, também aos pagãos concedeu Deus o arrependimento que conduz à vida! (At 11, 18). Também Paulo obteve esta descoberta em circunstâncias dramáticas: Era a vós [judeus] que em primeiro lugar se devia anunciar a palavra de Deus. Mas, porque a rejeitais e vos julgais indignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os pagãos (At 13, 46). E, quando abraçou este princípio, tornou-se Apóstolo dos Gentios. E da própria causa. Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus. (Gal 3, 28), pois Deus deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm 2, 4).
2) Quando Paulo fala de “judeu e grego, escravo e livre, homem e mulher” (Gal 3, 28), usa os termos e conceitos daquela época. Hoje, evidentemente, não seriam mais “escravo e livre”, mas talvez “analfabeto e letrado”, “empregado e desempregado”, “rico e pobre”, “branco e não-branco”, “hetero- e homossexual”. Com outras palavras: as “categorias” de pessoas que, em Cristo, foram “anuladas”, para formar um só povo, uma só família, dependem da mentalidade de cada época e geração. Podemos dizer que Jesus é uma denúncia constante de desigualdades e exclusões. Enquanto, aos olhos humanos, existem sempre alguns “estranhos”, como se apresentam, exatamente, os magos do oriente (os estrangeiros), Deus mostra, através deles que, para Ele, todos são importantes. Importantes porque amados. E a presença de “estranhos” serve para quebrar a rotina, para despertar e sensibilizar.
3) Há séculos, existem interpretações do significado de cada um dos presentes trazidos pelos magos. A mais difundida decifra todos estes dons como uma expressão (ou profissão) de fé. O incenso é visto como o sinal de fé na divindade do recém-nascido, o ouro como o reconhecimento de sua realeza e a mirra (naquela época usada nos procedimentos médicos e nos funerais) expressa a fé na humanidade verdadeira do Messias e alude o desígnio divino de seu sofrimento e morte. Com outras palavras: em nome de toda a humanidade, os magos do oriente, adoraram Jesus e professaram a sua fé, reconhecendo nele verdadeiro Deus e verdadeiro homem, o rei do universo e salvador do gênero humano, nascido para se oferecer no sacrifício redentor.
4) Animado com a presença dos misteriosos visitantes diante da manjedoura de Jesus, vou também eu, o estranho como eles. Compreendo que eles trouxeram algo que possuíam, dentro das suas condições. Eu não vou levar nem ouro (não tenho), nem mirra (não sei onde encontrar), nem mesmo o incenso (vou deixar aos padres esta tarefa). Simbolicamente, porém, vou apresentar tudo isso. A minha adoração e louvor ao meu Senhor, Deus e Rei. Vou levar, também, a minha homossexualidade, com tudo que ela significa para mim. Com suas sombras, angústias, dúvidas e medos. Mas, sem dúvida, com uma enorme gratidão pela graça de autoconhecimento e auto-aceitação. Com toda sensibilidade, própria desta condição. E, principalmente, com a mais preciosa experiência de amar e ser amado. Vou levar até Jesus, também, toda essa luta pela dignidade, respeito e reconhecimento que uma multidão dos meus irmãos e irmãs, no mundo inteiro, trava incansavelmente, enfrentando incompreensões, zombarias, humilhações, agressões e a própria morte. Entrego tudo isso nas mãos do Menino de Belém, confiante de que nenhum esforço ou sacrifício será em vão. E desejo muito que todos estes meus irmãos e irmãs, os homossexuais, fizessem a mesma visita a Jesus. Pois, quem o encontra, volta para casa por outro caminho, como os magos do oriente (confira Mt 2, 12).
ORAÇÃO
Hoje não podia ser diferente. O louvor e a súplica inspiram-se no trecho do Salmo 71(72), 10-14:
Os reis de Társis e das ilhas lhe trarão presentes;
os reis da Arábia e de Sabá oferecer-lhe-ão seus dons.
Todos os reis hão de adorá-lo,
hão de servi-lo todas as nações,
porque ele livrará o infeliz que o invoca,
e o miserável que não tem amparo.
Ele se apiedará do pobre e do indigente,
e salvará a vida dos necessitados.
Ele livrará da injustiça e da opressão,
e preciosa será a sua vida ante seus olhos.
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