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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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5 de janeiro de 2011

Oitava de Natal (4° dia)


SIMEÃO E ANA

TEXTO BÍBLICO: Lc 2, 29-32
Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. Porque os meus olhos viram a vossa salvação que preparastes diante de todos os povos, como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel.
LEITURA/REFLEXÃO
1)
A essência desta cena do Evangelho (e também da Festa de Apresentação do Senhor, celebrada anualmente no dia 2 de fevereiro) consiste no mistério da presença (ou da vinda) de Messias, Deus que se fez homem, no meio da humanidade e, especialmente, entre o povo eleito. Por isso, a entrada ao Templo de Jerusalém, torna-se um ato solene e simbólico. É o momento anunciado, ao longo dos séculos, também no Salmo 23(24): Levantai, ó portas, os vossos frontões, erguei-vos, portas antigas, para que entre o rei da glória (é interessante notar que o mesmo texto é interpretado, também, como a profecia da ascensão de Jesus, a sua entrada triunfal, ao templo da glória celeste). Embora Jesus seja sempre o centro de todo o anúncio do Evangelho, chamam a nossa atenção, também, os personagens de cada cena. Neste caso, além de Maria e José, fazem-se presentes a profetisa Ana (mencionada, na liturgia, no dia seguinte desta oitava) e o velho Simeão. É ele, quem, digamos, “rouba a cena”. Sem ofuscar Jesus, é claro. Até porque Jesus é a “Luz que brilha nas trevas e as trevas não conseguiram dominá-la” (Jo 1, 5). O próprio Simeão, movido pelo Espírito Santo, afirma o mesmo: “Uma luz que brilha para os gentios e para a glória de Israel, o seu povo” (Lc 2, 32). O tema, ou melhor, a simbologia da luz, aparece na liturgia (em várias regiões do mundo, na Festa da Apresentação, realiza-se a bênção das velas), fazendo eco à “grande liturgia da luz”, celebrada na Vigília Pascal. Mais uma vez percebemos a ligação direta de Natal (a Encarnação do Verbo Divino), com o Mistério Pascal (Paixão, Morte e Ressurreição do Filho de Deus, o Salvador). Compreendo que Ana e Simeão não estiveram lá por acaso, o que pode significar que o Espírito Santo, Autor da Bíblia, aponta-os como uma inspiração para meditar e orar. Por mais que tentemos fugir do assunto, a velhice é algo muito real e a maioria de nós vai chegar lá.
2) O Papa João Paulo II dedicou aos anciãos uma carta (leia, na íntegra, aqui). Entre outras coisas, escreve: A Escritura conserva uma visão muito positiva do valor da vida. O homem permanece sempre criado à « imagem de Deus » (cf. Gn 1, 26), e cada idade possui a sua beleza e missão. Mais, a idade avançada encontra na palavra de Deus uma grande consideração, a tal ponto que a longevidade é vista como sinal da benevolência divina (cf. Gn 11, 10-32) [n° 6]. No templo de Jerusalém Maria e José, que levaram Jesus para oferecê-lo ao Senhor, ou melhor, de conformidade com a Lei, para resgatá-lo como primogênito, encontram o velho Simeão, que há longo tempo esperava o Messias. Tomando entre seus braços o Menino, ele bendiz a Deus e irrompe no Nunc dimittis: « Agora, Senhor, podes deixar o Teu servo partir em paz... » (Lc 2, 29). Junto a ele encontramos Ana, viúva de oitenta e quatro anos, assídua frequentadora do Templo, que naquela ocasião tem a alegria de ver a Jesus. O Evangelista anota que ela « pôs-se a louvar a Deus e a falar do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém » (Lc 2, 38). [n° 7] A velhice, portanto, à luz do ensinamento e no léxico próprio da Bíblia, apresenta-se como « tempo favorável » para levar a bom termo a aventura humana, e faz parte do desígnio divino a respeito de cada homem como tempo no qual tudo converge, para que ele possa compreender melhor o sentido da vida e alcançar a « sabedoria do coração ». (...) Ela constitui a etapa definitiva da maturidade humana e é expressão da bênção divina. [n° 8]
3) Richard A. Isay, em seu livro “Tornar-se gay. O caminho da auto-aceitação” (Editora Summus; São Paulo, 1998), dedica bastante espaço aos gays idosos (p. 125-137). Derrubando a ideia de que “Os homossexuais idosos estão fadados a viver na solidão”, descreve vários exemplos de tratamento psicoterapêutico, com excelentes resultados. O texto de Isay termina com as seguintes afirmações: Tornando-se mais positivamente gays e procurando um amor que nutra o seu bem-estar, os idosos costumam melhorar sua saúde física e fortalecer a sua saúde emocional, e podem, através disso, perpetuar a sua vida. (...) Os idosos podem demonstrar aos mais jovens e desanimados que é possível viver vidas longas, felizes e saudáveis. Tornando-se modelos de longevidade e amor, eles podem mostrar que envelhecer como gay não impossibilita novos relacionamentos ou contatos íntimos. O fato de os gays idosos se tornarem tais modelos é importante, não apenas para os gays jovens, mas para os próprios idosos também. Desta maneira, aqueles que estão envelhecendo podem lutar contra o preconceito de nossa sociedade, que faz com que um número excessivo de gays disponha-se a agir de maneira autodestrutiva. (p. 136-137)
ORAÇÃO
Lembremos hoje de todos os homossexuais idosos, muitos deles bastante sofridos e desanimados. Citando, ainda, Richard A. Isay: Os idosos homossexuais, ao contrário dos heterossexuais, tiveram que lidar durante toda a sua vida adulta com a estigmatização social, sentindo-se à margem da cultura predominante. Peçamos, também, para nós, o dom de encarar o tempo que passa, com simplicidade, alegria e otimismo. O ponto de partida para oração de hoje é o Salmo 70(71), 9-12. 17-20:

Na minha velhice não me rejeiteis;
ao declinar de minhas forças não me abandoneis,
porque falam de mim meus inimigos
e os que me observam conspiram contra mim,
dizendo: “Deus o abandonou.
Persegui-o e prendei-o,
porque não há ninguém para livrá-lo.”
Ó Deus, não vos afasteis de mim.
Meu Deus, apressai-vos em me socorrer.
Vós me tendes instruído, ó Deus, desde minha juventude,
e até hoje publico as vossas maravilhas.
Na velhice e até os cabelos brancos,
ó Deus, não me abandoneis,
a fim de que eu anuncie à geração presente a força de vosso braço,
e vosso poder à geração vindoura,
e vossa justiça, ó Deus, que se eleva à altura dos céus,
pela qual vós fizestes coisas grandiosas.
Senhor, quem vos é comparável?
Vós me fizestes passar por numerosas e amargas tribulações,
para, de novo, me fazer viver
e dos abismos da terra novamente me tirar.

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