Nesta sexta-feira da I semana do tempo comum lemos o Evangelho segundo São Marcos (Mc 2, 1-12): Reuniu-se uma tal multidão, que não podiam encontrar lugar nem mesmo junto à porta. E ele os instruía. Trouxeram-lhe um paralítico, carregado por quatro homens. Como não pudessem apresentar-lho por causa da multidão, descobriram o teto por cima do lugar onde Jesus se achava e, por uma abertura, desceram o leito em que jazia o paralítico. Sabemos o que aconteceu depois, mas já esta descrição inicial merece muita atenção. Pessoalmente, vejo nestes poucos versículos, uma inspiração para uma autêntica e vitoriosa Pastoral para Homossexuais. Vou explicando passo a passo. Primeiro: cinco homens, um deles paralítico, carregado pelos quatro demais. Impossível não notar uma incrível e profunda sintonia entre eles. Uma meta bem definida: encontrar Jesus. E não é uma pretensão, uma fantasia ou uma conquista qualquer. É uma necessidade. E, também, uma expressão concreta e corajosa da fé. Com outras palavras: estes homens são "os necessitados de Jesus". Não me detenho - de propósito - sobre o mal específico do qual sofria aquele homem, só para não criar uma falsa associação de homossexualidade com a paralisia. Não é este o meu objetivo. Insisto em dizer que os homossexuais têm pleno direito de serem pessoas religiosas e terem o seu espaço na Igreja. Voltando ao texto do Evangelho: os quatro homens abraçam o desafio e não desanimam com as dificuldades que, desde o início, não são poucas nem pequenas. Já o próprio peso, carregado não se sabe por quanto tempo e que tipo de caminhos, exigia força, equilíbrio, delicadeza e perseverança. Eles não estavam levando um saco de batatas e tinham plena consciência disso. E, exatamente como acontece na vida, quando já estavam perto da meta, surgiu de surpresa um obstáculo novo e maior de todos. Este momento é muito importante para perceber todo o sentido da mensagem. Diz Marcos que os quatro homens não conseguiram apresentar o paralítico a Jesus por causa da multidão. Que multidão é essa? São os ouvintes de Jesus, seus seguidores, discípulos. Mas que multidão é essa que impede - também hoje - os necessitados chegarem perto de Jesus? São os ouvintes dele, seguidores, discípulos. Os cristãos. Agora percebemos que para uma "equipe de necessitados" que realmente deseja encontrar Jesus, um "muro" feito de seguidores de Jesus, ou um "muro" da instituição chamada Igreja, é mais difícil a ser escalado do que o muro daquela casa. Aqueles quatro homens, entretanto, mostram uma determinação extraordinária que só pode nascer no coração cheio de amor. O amor que não desiste e que descobre, ou inventa, soluções. Para mim, esta é a imagem, ou melhor, a "Carta Magna" (a constituição) de uma verdadeira Pastoral para Homossexuais. Aquela barreira humana (intransponível, como dizem, "em nome de Jesus") vai existir sempre. Mas, enquanto existir este amor corajoso, criativo, delicado e inteligente, no coração dos cristãos que não abandonam a sua fé só por serem homossexuais, será possível o maravilhoso encontro com Jesus que acolhe e apoia, atende e compreende, porque ama. É por isso que acredito nesta ideia de uma Pastoral específica para nós. Ela pode funcionar em pequenos grupos - como este do Evangelho - desde que tenha o mesmo objetivo (de encontrar Jesus) e a mesma união. E tudo isso inspirado e alimentado pelo amor ao Senhor e aos irmãos.
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