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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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13 de janeiro de 2014

Travando a Igreja


Citei ontem a frase de D. João Carlos Petrini, o Presidente da Comissão Vida e Família da CNBB que disse que "o Papa Francisco está destravando a Igreja". O esforço do Pontífice é visível a cada momento. Ao mesmo tempo, parecendo uns vermes que saem de baixo da terra, surgem textos e atitudes que, sem sombra de dúvida, procuram o contrário, isto é, travar a Igreja. É isso mesmo, pois a mais prejudicada fica, exatamente, a Igreja, cujo nome usam os pretensiosos teólogos e moralistas do fundo do quintal. O prejuízo é tanto maior, quanto mais os mesmos recorrem aos poderosos meios de comunicação social, em particular, à internet. Eu sei que a Igreja, enquanto instituição, é (e quase sempre foi) uma máquina enorme e, portanto, lenta em suas reações. O indevido uso de seu nome, porém, merece ser detectado e repudiado de forma exemplar. É o caso do portal "Pro Ecclesia Catholica ~ Lutar pela Verdade, Mesmo Que Seja Preciso Morrer Por Ela" (detesto quando alguém escreve assim, abusando das maiúsculas) que venho apontar como merecedor de todo repúdio. Em nome de Jesus!

Em uma de suas publicações recentes, o portal pergunta (e responde): "Por que dizer não à adoção de crianças por casais homossexuais?". O autor, Pedro Henrique Alves (quem quiser, pode localizá-lo no facebook), começa a sua brilhante argumentação com a tese: "Vivemos um dilema social que é o problema dos órfãos". Ainda bem que ele não tenha optado pelo caminho mais curto, a exemplo do cientista "apocalíptico" do romance de Dan Brown "Inferno". No livro, "o dilema" foi o crescimento avassalador da população mundial que precisava ser desacelerado de maneira tanto rápida, quanto radical. Mesmo que o autor do texto sobre a adoção de crianças por casais homossexuais não tenha chegado à conclusão tão drástica, há um passo apenas, entre a propaganda fanática e o aumento do preconceito e da violência homofóbica. Sinceramente, eu fico tranquilo em relação aos estudiosos e atentos, mas preocupo-me com todos aqueles que a palavra "católico" priva de qualquer reflexão inteligente e objetiva. Estes, sim, facilmente caem nas ciladas do discurso fundamentalista.

Os leitores sensíveis às regras da língua portuguesa rapidamente ficam com uma pulga atrás da orelha, diante da seguinte introdução do autor: "Para uma maior compreensão do artigo seguiremos a linha das minhas 4 linhas argumentações [sic! - talvez tenha sido um erro de digitação e o certo seria "lindas"] sendo que elas serão colocada [sic!] em tópicos para maior visualização". Vejamos, portanto, essas linhas, ou lindas argumentações:

1- Problema: Imposição cultural
Hoje vemos que não curamos esta ferida social (o problema dos órfãos), mas avançamos. Porém não é difícil constatar que alguns grupos com a intenção de se consolidar, e estruturar suas opiniões [sic!] usam de assuntos terminantemente sérios para se impor como solução. Isso se dá claramente na adoção de crianças por "casais" homossexuais. Não estou dizendo que estes casais tenham a intenção de impor os seus dilemas sexuais aos outros, porém aqueles militantes que estão por trás das leis de legalização das adoções por parte dos homossexuais, que assim se fazem de anjos guardiões que pouco estão se importando com estas crianças e sim, usando deste meio para conseguir se infiltrar na sociedade cristã [sic!] a fim de (talvez "afim") de satisfazer as organizações internacionais que pressionam o governo para uma nova moral mundial.  

A teoria (o a obsessão) de uma grande e misteriosa conspiração mundial sempre faz muito sucesso. Olavo de Carvalho que o diga. O autor do artigo em questão, sem dúvida, tem aquele ex-mago filósofo por mestre. Basta ver os termos que usa (por exemplo "gayzismo")...

2- Problema: Imposição [da] homossexualidade como uma nova vertente sexual
Sabemos por estudos e principalmente pelo DR. Gerard Van den Aardweg (...) que o homossexualismo não é genético (...) e sim da esfera comportamental ou traumática [sic!]. Sendo assim o Dr. Gerard explica que a criança até atingir sua fase adulta de maturidade emocional, ela é totalmente influenciável e as condições de onde ela vive e com quem vive a influenciará (influenciarão) a tomar para si suas características futuras [sic!] na parte emocional, intelectual e sexual. Através dessa influência a militância gay vê a oportunidade de se consolidar na sociedade, fazendo das crianças presas fáceis e moldáveis para seus planos [sic! sic!]. Esta mesma estratégia é utilizada por exemplo através da cartilha Gay.

Agora vem a parte mais impressionante. Merece um prêmio, quem conseguir acompanhar o raciocínio a seguir. E uma reprovação, quem não perceber uma contradição mais que grosseira:

Não estou aqui colocando um ponto final sobre a sincera vontade de um ou dois homossexuais de ajudar sinceramente uma criança órfã, mas sim explicitar que uma criação de uma criança por um casal homossexual não é benéfica e sim traumática para a criança que se verá em um ambiente que lhe trará confusão e questionamentos sobre si e sua sexualidade, questões que não são abertas a interpretações ou argumentações, como se houvesse uma escolha a qual sexo seguir, sendo sexo é uma característica inerente a vontade e não está no âmbito da faculdade de escolha. Todos nós se nos colocarmos nus em frente (aqui fiquei na dúvida se é para nos colocarmos uns em frente dos outros, o que seria talvez um pouco indecente, ou, por exemplo, em frente de um espelho) veremos que temos o órgão sexual feminino ou masculino, temos útero e vagina ou pênis e testículos (independentemente de cirurgias), e não que alguém esteja impedido de escolher ser hétero ou não, pois isso é uma escolha que esta no campo ideológico, afinal isso é a liberdade de escolha, porém, não se pode igualizar a heterossexualidade com a homossexualidade como se ambas fossem biológica e geneticamente comprovada ser inerente ao ser humano; não há como apresentar o homossexual como um 3º sexo, e sim uma opção de vida e não um gênero sexual.


Bem... talvez isso já seja suficiente para formar uma opinião clara sobre o autor e as suas divagações. Nos dois pontos restantes do texto temos algo sobre os "traumas psicológicos" da criança adotada pelos homossexuais (uma difusão do “gayzismo” como uma vertente da sexualidade; conceitos totalmente confusos que na cabeça de uma criança causa grande tempestade de ideias imaturas quanto a si mesma; muitas dificuldades no desenvolvimento emocional etc.) e, finalmente, sobre a "política fútil" (Enquanto houver interesses de grupos minoritários sendo colocados acima dos interesses do Povo, aquela parte da constituição que diz “Todo poder emana do povo” é apenas uma grande “tertúlia flácida para dormitar bovino”. O povo brasileiro em sua maioria é terminantemente Cristão e contra a adoção de crianças por parte de homossexuais, ou será que irão negar isto também?)...


O antídoto está, simplesmente, no bom senso. Quem quiser, entretanto, desintoxicar a mente, pode recorrer ao texto "Contribuições da psicologia em relação à adoção de crianças por casais homoafetivos: uma revisão de literatura", publicado por Revistas Unijorge. O artigo sério, objetivo, baseado realmente nas pesquisas científicas e assinado por nomes de peso e autoridade muito maiores do que o nome de um estudante de teologia disléxico, portador de um cérebro bem lavado. No texto vamos encontrar as respostas para todas as (eventuais) dúvidas causadas pela desastrosa argumentação citada acima. Escolhi apenas duas frases que podem servir como resumo de toda reflexão sensata e serena:

Foi percebido que, para a criança, conviver com o homoafetivo se constitui em uma maior possibilidade de desenvolvimento do respeito e tolerância às diferenças individuais, características estas muito valiosas para vida em sociedade.

A adoção de crianças por casais homoafetivos não se apresenta como fator prejudicial ao desenvolvimento saudável da criança, pois assim como os casais heteroafetivos, os homoafetivos possuem condições de cuidar, educar e fornecer o que preciso for ao filho.

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