Começo com um texto de Carlos Drummond de Andrade, "Desejos de Ano Novo":
Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze
meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez
com outro
número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser
diferente.
A contagem do tempo faz parte da nossa cultura. Aliás, tem a origem eterna (que paradoxo!). Deus inspirou o homem a orar, pedindo o dom da sabedoria, assim: Ensinai-nos a contar os nossos dias, e dai ao nosso coração sabedoria! (Sl 89[90], 12). Contamos, então, os dias, as semanas, os meses e os anos. Como é diferente essa contagem quando se trata de tempo compartilhado com uma pessoa amada. "Hoje completamos o primeiro mês do nosso namoro..." e assim por diante. Quando não se conta mais os meses, mas sim, os anos e as décadas, a sensação é de uma vida realizada...
A
Igreja proclama com certa frequência os anos comemorativos e os jubileus. Ainda que não se tratasse de datas muito precisas,
tivemos a maior celebração jubilar dos nossos tempos, comemorando
os 2 mil anos do nascimento de Jesus. Na proximidade dessa data,
antes e depois, tivemos o Ano Mariano, Ano Paulino, Ano do Rosário,
Ano Eucarístico, Ano da Fé etc. Tudo isso com o objetivo de
aprofundar o conhecimento de cada mistério da fé e de aprender a
vivê-lo mais intensamente (é claro, não apenas no período
indicado, mas a partir dele). A curiosidade desses "calendários"
especiais na Igreja é que nunca coincidem com a agenda civil, isto
é, começam e terminam em datas diferentes e até distantes do dia
01 de janeiro ou 31 de dezembro (assim como o ano litúrgico que
começa no 1° domingo do Advento e termina mais ou menos um mês
antes do fim do ano civil). Talvez seja uma questão de mostrar a
independência "deste mundo", embora, por exemplo, o
Papa João Paulo II, tendo abraçado algumas ideias da ONU, proclamava os anos temáticos (ou, pelo menos escrevia as mensagens
especiais) de acordo com a iniciativa dessa instituição (assim foi
com o Ano da Juventude em 1985 e o Ano dos Idosos em 1999).
A
Arquidiocese do Rio promove agora o Ano da Caridade, com o início no
dia 20 de janeiro (a festa de São Sebastião) e o encerramento no
dia de Cristo Rei (23 de novembro).
Finalmente,
para alguns autores, entre eles o blogueiro Gunter Zibell (um dos
membros do "GGN - o Jornal de todos os Brasis"), o ano 2013
pode ter sido considerado como o "Ano da globalização da
discussão de direitos LGBT" (leia aqui).
Vale a pena ler a matéria e seguir também os links indicados pelo
autor para ter uma visão mais completa.
Nesta
altura só me resta desejar um feliz 2014 a todos os meus Amigos
Leitores e não menos amados Leitores casuais. Faço isso dando a
continuação ao belíssimo texto do Poeta, com o qual comecei essa
reflexão.
Para
você, desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança
renovada.
Para
você, desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder
sorrir,
todas as músicas que puder emocionar.
Para
você neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que
sua família esteja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria
de lhe desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente para repassar
o que realmente desejo a você.
Então, desejo apenas que você tenha
muitos desejos.
Desejos grandes
e que eles possam te mover a cada
minuto,
rumo à sua felicidade!
Carlos
Drummond de Andrade, "Desejos de Ano Novo"
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