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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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11 de janeiro de 2014

Canção nova ou velha?


A "Canção Nova" (para quem não sabe) é uma comunidade católica (carismática), dedicada à evangelização, principalmente através dos meios de comunicação social. A mais conhecida, obviamente, é a TV Canção Nova. A sede da comunidade está na cidade de Cachoeira Paulista (SP) e lá acontecem os maiores eventos promovidos por ela e transmitidos ao vivo pela própria emissora. Durante os famosos acampamentos e retiros da Canção Nova discursam vários pregadores que, para tal privilégio, precisam ser reconhecidos pela sua fidelidade à determinada linha doutrinal da Igreja. Com outras palavras, não é qualquer um, mesmo sendo bispo, padre, ou diácono (isto é, pregador autorizado pela Igreja para esse ofício) que pode ser admitido ao púlpito (e às câmeras) da Canção Nova. Não encontraremos por lá, por exemplo, os padres: José Trasferetti, James Alison, Luis Corrêa Lima, José Lisboa Moreira de Oliveira e muitos outros. É mais fácil contar com a presença do midiático padre Reginaldo Manzotti ou do ferrenho defensor da doutrina e da tradição, padre Paulo Ricardo. Este último está presente, agora mesmo, no acampamento "Revolução Jesus - Livres para amar" (08-12/01/2014). O portal da Canção Nova publicou a transcrição de sua palestra. Entre outras coisas, padre Paulo Ricardo, fala sobre os homossexuais [os grifes são meus]:

Você pode repetir quantas vezes quiser que a união entre dois homens e que a união de duas mulheres são a mesma coisa que a união de um homem com uma mulher. Você pode repetir várias vezes isso, mas isso é artificial, pois o mundo real grita que, quando um homem se une com uma mulher, acontece o milagre da vida. Quando dois homens se unem não acontece nada; e quando duas mulheres se unem também não acontece nada; e este é o mundo real. Desculpem-me, não estou discriminando ninguém. A Igreja não quer discriminar os homossexuais como se eles fossem inferiores. A Igreja quer somente dizer: Existe uma obra inscrita na criação, se nós obedecermos ao nosso Criador, ao ''Fabricante'', vai ser melhor para todos. As pessoas dizem que ficamos castrando os homossexuais ao afirmarmos que eles não podem usar o sexo como querem. Mas ninguém pode usar o sexo como quiser. A Igreja não discrimina ninguém, ela pede a castidade para todos. Os casais [homem e mulher] também são chamados à castidade.

Para explicar melhor a minha resposta, recorro a outro trecho da mesma pregação:

O sexo só pode ser realizado em um projeto de família, em queum homem e uma mulher se unem de forma permanente para gerar filhos, não estou dizendo que ele é feito só para isso, mas ele tem a ver com esta obra linda de gerar crianças. Este é o projeto de Deus e é, porque perdemos a noção disso, que a moral sexual se tornou tão complicada para nós.

E mais um trecho:

(…) temos dois caminhos, temos que escolher entre eles. O primeiro caminho é o mais comum, a aliança de amor, chamada de "matrimônio" e o outro caminho chamado é o "celibato", que também é uma aliança de amor, uma oferenda da sua sexualidade para Deus. (…) Quem é solteiro, está solto, disponível. Um padre, como eu, não é solteiro. O padre é comprometido em uma aliança de amor com Deus e deve viver assim. Nós precisamos entender isso, ninguém tem vocação para ser solto, para ser solteiro, no entanto, hoje, nossa sociedade acha que liberdade é você ser solteiro, mas não é assim. A liberdade do amor acontece quando selamos uma aliança de amor, quando celebramos uma aliança de amor nós somos livres para amar.

1. Um homem e uma mulher se unem de forma permanente para gerar filhos - sem dúvida, padre! Nenhuma das pessoas homossexuais pretende negar isso, afinal todos nós viemos a este mundo por meio de uma união desse tipo (bem, nem sempre tenha sido uma união permanente, mas sem dúvida alguma, trata-se de união entre um homem e uma mulher).

2. O senhor padre diz que esse projeto de família (que une um homem e uma mulher) não é feito só para gerar filhos, mas tem a ver com essa obra linda de gerar crianças. Eu sempre pensei que o projeto de Deus em relação ao ser humano tem a ver com o amor e não necessariamente com essa obra linda de gerar crianças. O celibato que - usando as suas palavras – é uma oferenda da sexualidade para Deus - não tem nada a ver com essa obra linda de gerar crianças. Além disso, a Igreja reconhece como válido o matrimônio entre um homem e uma mulher que, por algum motivo independente de sua vontade, não podem ter filhos.

3. O senhor, padre Paulo Ricardo, diz que ninguém tem vocação para ser solto, para ser solteiro, no entanto, hoje, nossa sociedade acha que liberdade é você ser solteiro, mas não é assim. Por que, então, o Beato João Paulo II afirmouEstou também contente por encontrar pessoas que pertencem aos vários setores da Igreja: diáconos e seminaristas, religiosos e religiosas, maridos e esposas, mães e pais, solteiros, noivos, viúvas, jovens e crianças. Todos juntos podemos assim celebrar a nossa união eclesial em Cristo?

4. Em sua palestra, o senhor disse: Quando dois homens se unem não acontece nada; e quando duas mulheres se unem também não acontece nada; e este é o mundo real. O senhor já conversou, alguma vez, com um casal homossexual? Já tentou ouvir, com calma, o que é que acontece entre essas pessoas? O que é que as une? Senhor seria capaz de compreender que as suas próprias palavras aplicam-se na experiência de muitos casais homoafetivos: a liberdade do amor acontece quando selamos uma aliança de amor, quando celebramos uma aliança de amor nós somos livres para amar. Este, padre Paulo Ricardo, é o mundo real.

5. Para terminar, senhor padre, recorro de novo às suas palavras:As pessoas dizem que ficamos castrando os homossexuais ao afirmarmos que eles não podem usar o sexo como querem. Mas ninguém pode usar o sexo como quiser. Pois é, Padre! Eu acho que aqui está o "x" da questão. Ninguém pode usar o sexo como quiser. Por mais que eu quisesse fazer sexo com uma mulher, simplesmente não posso, não consigo. Quem pretende nos "transformar" ("converter", se quiser esse termo) em heterossexuais, está de fato tentando nos castrar. O próprio Catecismo, ao qual o senhor es refere tanto, diz: Cabe a cada um, homem e mulher, reconhecer e aceitar sua identidade sexual(CIC, 2333) Por isso não é questão de "usar o sexo como quiser", mas de acordo com a própria identidade sexual.

6. A última coisa. O padre afirma: Desculpem-me, não estou discriminando ninguém. A Igreja não quer discriminar os homossexuais como se eles fossem inferiores. (…) A Igreja não discrimina ninguém (...). NÃO ME DIGA!

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