ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



_____________________________________________________________________________



20 de janeiro de 2014

Homofobia - palavra estranha


Escrevi recentemente que - em certo sentido - concordo com aafirmação usada pelo padre Paulo Ricardo: "Não existe nenhuma homofobia". Para ser mais exato, o padre disse: "Não existe nenhuma homofobia em considerarmos a estrutura do mundo real". De fato, a polêmica mais importante seria sobre o conceito do "mundo real", mas o início daquela frase despertou na minha memória o questionamento de outro tipo. Quando usei a expressão "em certo sentido", fiz referência, de fato, a um e único sentido. Enquanto a homofobia - como a entendemos - lamentavelmente continua existindo e até parece aumentar, o próprio termo não me deixa sossegado. O que quero dizer é que não existe a homofobia do ponto de vista linguístico (etimológico, fraseológico etc.). O que, de fato, existe e tanto nos atormenta é uma "heterofobia".

Analisemos um pouco a história:

A palavra homossexual é um híbrido do grego e do latim com o primeiro elemento derivado do grego homos'mesmo' e o segundo elemento derivado do latim sexus'sexo', conotando portanto, atos sexuais e afetivos entre pessoas do mesmo sexo. Especialistas em literatura psiquiátrica concordam em posicionar o surgimento do termo homossexualismo no século XIX, por volta da década de 1860 ou 1870, criado pelo discurso médico para identificar o sujeito homossexual. A primeira aparição conhecida do termo homossexual na impressão foi encontrada em um panfleto de 1869, publicado anonimamente, pelo romancista alemão nascido na Áustria, Karl-Maria Kertbeny. [fonte]

palavra homofobia é um neologismo criado pelo psicólogo George Weinberg, em 1971, numa obra impressa, combinando a palavra grega phobos ("fobia"), com o prefixo homo-, como remissão à palavra "homossexual". O problema é que tal prefixo ('homo') é também uma palavra completa (como vimos acima) e a mencionada remissão à palavra 'homossexual' não parece tão óbvia. Se, portanto, a palavra 'fobia' - "medo, aversão irreprimível" (do grego antigo φόβος) associarmos ao termo 'homo' (também do grego antigo ὁμός - 'mesmo, igual'), vamos descrever o "medo do igual" o que não é o caso da homofobia real, cujos tristes efeitos sofremos diariamente na própria pele. O medo, a aversão irreprimível, a agressão irracional... tudo isso dirige-se a nós, justamente por sermos diferentes. Na língua grega existe o termo 'heteros' (ετερός) que quer dizer 'diferente'. Por analogia (e, segundo os estudiosos, como a resposta à criação do termo "homossexual") surgiu a palavra "heterossexual", com a mesma lógica de associar um elemento derivado do grego ('heteros' - 'outro, diferente') e o outro, derivado do latim ('sexus' - 'sexo'), para indicar atos sexuais e afetivos entre pessoas de sexos opostos. Logo, o mencionado acima "medo causado pelas pessoas diferentes (no contexto sexual)" seria 'heterofobia' e não 'homofobia'.

Vale mencionar aqui mais um termo, desta vez composto de duas palavras gregas e que descreve a realidade muito próxima à homofobia. É a xenofobia (do grego ξένοςxénos -'estrangeiro' φόβοςphóbos - 'medo') é o medo, aversão ou a profunda antipatia em relação aos estrangeiros, a desconfiança em relação a pessoas estranhas ao meio daquele que as julga ou que vêm de fora do seu país. A xenofobia pode manifestar-se de várias formas, incluindo o medo de perda de identidade, suspeição acerca de suas atividades, agressão e desejo de eliminar a sua presença para assegurar uma suposta pureza.
A xenofobia pode ter como alvo não apenas pessoas de outros países, mas de outras culturas, subculturas ou sistemas de crenças. O medo do desconhecido pode ser mascarado no indivíduo como aversão ou ódio, gerando preconceitos. Em senso mais restrito, xenofobia é o medo excessivo e descontrolado do desconhecido. Neste sentido, é umadoença e insere-se no grupo das perturbações fóbicas,caracterizadas por ansiedade clinicamente significativa, provocada pela exposição a uma situação ou objeto temido. Para o tratamento da xenofobia são normalmente utilizados os métodos da terapia comportamental. Em alguns casos mais graves é habitual a administração de medicamentos que tenham por objetivo principal a diminuição da ansiedade extrema, uma vez que esta impede que se realizem as sessões terapêuticas de uma forma eficaz. Em outros casos, pode-se desenvolver crenças irracionais (geralmente preconceituosas), pelo que também é recomendado que se busquem estratégias cognitivas que trabalhem tais crenças.[fonte]

Bem... Não pretendo promover aqui uma revolução linguística ou a nova reforma ortográfica/etimológica etc. Procuro apenas analisar os termos que usamos.

O verdadeiro problema começa quando alguém insiste em negar a existência de algo real. É o caso de "homoafetividade" que, enquanto um termo, não deixa tantas dúvidas, porém é questionada como a mais autêntica experiência vivida pelas pessoas homossexuais. O "filósofo" Olavo de Carvalho, em um dos seus discursos, exibidos no YouTube, disse literalmente: Vamos falar o português claro: no que consiste a homoafetividade masculina, né? Consiste um comer o cu do outro, meu filho. Consiste na boa e velha sodomia, você tá entendendo? (Leia aqui e, se realmente quiser, assista os vídeos no mesmo link).

Terminando as minhas divagações sobre os termos e as expressões (com seus respectivos significados), gostaria de afirmar com a mais triste veemência: a homofobia existe, sim... A página virtual "Homofobia mata" é um dos veículos que comprovam i documentam esse trágico fenômeno.

Para finalizar, recorro ao texto do Deputado Federal Jean Wyllys, publicado na "Carta Capital":

Eu já disse uma vez e vou repetir. Cada uma dessas vítimas tem um algoz material — o assassino, aquele que enfia a faca, que puxa o gatilho, que "desce o pau", como o pastor Malafaia pediu numa de suas famosas declarações televisivas. Mas há outros algozes, que também têm sangue nas mãos. São aqueles que, no Congresso, no governo e nas igrejas fundamentalistas, promovem, festejam, incitam ou fecham os olhos, por conveniência, oportunismo, poder e dinheiro, cada vez que mais um Kaique é morto. Eles também são assassinos.

Como deputado federal, mas também como cidadão gay desse país, e antes disso tudo, como ser humano não consegue conviver com a violência e o ódio como se fossem naturais, ficarei à disposição da família e dos amigos de Kaique e farei tudo o que puder para que esse e outros crimes sejam esclarecidos e não fiquem impunes. Como dizia o poeta Pablo Neruda, chileno como Daniel Zamudio, "por esses mortos, nossos mortos, eu peço castigo".

Nenhum comentário:

Postar um comentário