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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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12 de janeiro de 2014

As novidades do Batismo


O título resume o conteúdo do texto a seguir, embora a sua expressão possa sugerir uma direção diferente da reflexão. Sim, o Batismo, enquanto Sacramento, traz uma novidade total para quem o recebe. É uma nova identidade, é a filhação divina, é a marca de Deus que não se apaga por toda a eternidade...

Queria, entretanto, falar hoje de outras coisas. Se não existir a regra que manda inventar um título curto, o mais correto seria: "As novidades anunciadas na Festa do Batismo do Senhor 2014". Todos os anos, nesta ocasião, a Igreja inicia o tempo litúrgico chamado "comum" (que, cá entre nós, não é o nome dos mais bonitos). É para destacar o encerramento das festividades natalinas e dar um tempo para o novo período forte na liturgia que é, sem dúvida, a quaresma e a Páscoa. Podemos dizer que o Batismo do Senhor é o último domingo do ciclo de Natal e, ao mesmo temo, o primeiro do tempo comum. É bastante curiosa a analogia que aparece aqui com a figura de João Batista que pertence, ao mesmo tempo, ao Antigo e ao Novo Testamento.

A notícia do Batismo do Senhor de 2014 é o anúncio de novos cardeais. Entre eles está o Arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta. Ele mesmo, em março do ano passado, em uma entrevista à revista ISTOÉ, foi interrogado sobre esse assunto:

ISTOÉ: O sr. almeja ser cardeal?

D. Orani - Não coloco como preocupação minha, mas da cidade. Todo dia eu escuto essa cobrança. Mas estou muito tranquilo. Se o novo papa decidir que o Rio não vai ter mais cardeal, não será problema para mim, mas talvez para a cidade.

Na mesma entrevista o futuro cardeal respondeu às perguntas referentes às pessoas homossexuais:

ISTOÉ - O sr. é a favor da união civil ou do casamento entre pessoas do mesmo sexo?

D. Orani - São coisas diferentes. Uma coisa é a família, o casamento, que tem a ver com a natureza humana. Outra coisa são essas uniões, que envolvem direitos civis, de herança, por exemplo. A gente não entra nessa história. Eu creio que essas questões começaram a surgir por falta de respeito ao outro, perseguições e mortes. Não podemos ter um mundo intolerante dessa forma, nem de um lado nem de outro. O outro tem sua liberdade de opção, sabendo até que eu não posso concordar com ele.

ISTOÉ - Um homossexual é bem recebido na Igreja?

D. Orani - A Igreja é a que mais procura respeitar as pessoas, acolher e ajudar nos conflitos que cada um possa ter no coração. Tenha a opção sexual que tiver, a Igreja deve acolher. Porque Cristo quando veio foi a todos e falou com todo mundo. Ninguém está sendo expulso da Igreja por uma coisa ou outra.

Ainda que a expressão "opção sexual", usada pelo D. Orani, sugira - digamos - certa insegurança dele no assunto, a resposta em si mostra a sua abertura para com o mundo real. No mesmo sentido e no tom ainda mais acolhedor, D. Orani teria respondido a um rapaz, Rafael, durante a JMJ 2011 em Madri. Rafael relata assim a resposta do Arcebispo:

[D. Orani] disse que não podemos negar que há homoafetivos em nossa Igreja, até porque nossa Igreja é um grande corpo, e Cristo como autor da fé chama a todos a viver essa sua diversidade e pluralidade, e que ele, como bispo, não podia negar a vivência de Igreja, a comunhão de fé a ninguém. E acrescentou que todos aqueles que proclamam o Credo e têm suas experiências com o Cristo, e O reconhecem como Senhor têm espaço e lugar em nossa Igreja. Segundo ele, essa é uma pequena expressão do que é o Reino de Deus, a Nova Jerusalém, e sublinhou que Cristo convida a todos; aqueles que se sentem cativados respondem a esse chamado, seja gay ou hétero. "A Igreja está aqui para todos", concluiu. 

O portal terra, em julho do ano passado divulgou a seguinte notícia: O Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta e seus auxiliares tiveram que repercutir as duas entrevistas dada pelo Papa Francisco antes de deixar o Brasil, nas quais tocou em assuntos polêmicos, como a aceitação de homossexuais na igreja. “A igreja nunca rejeitou essas pessoas. Temos pessoas trabalhando na direção de nos aproximarmos mais”, disse o Arcebispo.

Enfim, o que muda com a indicação e a próxima nomeação de D. Orani como cardeal, é o peso de suas palavras. Esperamos apenas uma continuação em sua abertura a este assunto e que ele faça o contaste em relação ao seu colega, D. Odilo Pedro Scherer de São Paulo.

Retomando a expressão (um tanto discutível) de D. Orani: "A Igreja nunca rejeitou essas pessoas", aproveito o gancho para citar a declaração de um outro bispo, D. João Carlos Petrini, Presidente da Comissão para Vida e Família da CNBB. Em sua entrevista, concedida ao portal Estadão (e publicada ontem), D. Petrini responde, em primeiro lugar, a uma pergunta geral [os grifes são meus]:

Estadão: Do ponto de vista das famílias, que mudanças podem ocorrer na Igreja diante do discurso de acolhimento do papa Francisco?

D. Petrini: Eu diria que o papa Francisco está destravando a Igreja. Pela linguagem, pelo gesto. Está abrindo para o essencial, a misericórdia de Deus que acolhe, que perdoa, que abraça. Multidões inéditas vão à Praça São Pedro. A família talvez seja o ponto mais sensível da vida da Igreja. A transmissão da fé não se recebe dos padres, mas da avó, da mãe, do pai. Essa transmissão está em crise. Os recasados, os divorciados não são poucos. Vejo muitos que têm sincero sofrimento por não chegar ao sacramento. O papa quer consultar o mundo inteiro sobre as práticas, a realidade, em busca de um caminho.

No final da conversa ouvimos o tom da esperança:

Estadão: O que significa na prática o acolhimento de casais homossexuais?

D. Petrini: O acolhimento de homossexuais na Igreja não é novidade, quando ainda os homossexuais não levantavam a bandeira forte, ideologicamente poderosa, a Igreja acolhia, ouvia, orientava.

Estadão: Qual é sua orientação para batismo de crianças filhas de casais do mesmo sexo?

D. Petrini: A orientação que temos conversado entre os bispos é que acima de tudo o batismo é bom para a criança. Quem vai educar essa criança na fé católica? Tem alguém que vai cuidar seriamente disso? Tem. Então está bem, vamos batizar. Se for só para fazer fotografia, chamar a imprensa, a resistência é maior. Mas se for sincero, o acolhimento é direto.

Estas são, ao meu ver, as novidades da Festa do Batismo do Senhor 2014.

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