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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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9 de janeiro de 2014

Cidadania ou gueto


A luta pelos direitos da "Comunidade LGBT" tem várias faces e isso não seria tão surpreendente, afinal - como simbolicamente mostra a nossa bandeira - a diversidade é a palavra-chave. Podemos, no entanto, pensar na diversidade de objetivos, ou concentrar a nossa atenção em um só: a cidadania plena? Provavelmente sem nos darmos conta, acabamos copiando algumas iniciativas equivocadas, presentes na sociedade moderna.

Li recentemente no facebook a notícia sobre um colégio em Londrina (PR) que, a partir deste ano, terá um banheiro exclusivo para os alunos homossexuais. Como sempre acontece nas redes sociais, depois da publicação da notícia, surgiram os mais diversos comentários. Um deles parece aprovar a ideia:

Aqui em Brasília não foram poucos os casos de constrangimento de homossexuais e pessoas trans no uso do banheiro que chegaram até a Coordenação de Diversidade da Secretaria de Educação. Na maior parte das vezes, a escola não tem a menor ideia de como tratar desse assunto. A saída, geralmente é oferecer o banheiro da sala de professores/as para esses alunos e alunas o que acaba sendo aceito tanto pelas famílias como pelos/as estudantes. No caso da escola do Paraná, a decisão talvez tenha seguido o caminho mais fácil para a direção e principalmente para os estudantes gays, mas não sei se é a mais acertada. O banheiro, lugar de intimidade, como não poderia deixar de ser, é um espaço (um dos poucos) para se expressar a sexualidade na escola. É lá que acontece (ao menos no banheiro dos meninos), as disputas de quem tem o pau maior, de quem goza primeiro. É lá que meninos desenham seus órgãos sexuais e os das meninas além de deixar recados cheios de erotismo, tesão e machismo nas portas e paredes. Não deixa de ser assim, um espaço pedagógico. Não deixa de ser assim, um espaço de construção do "macho". Acontece que gays e trans não são bem-vindos nesse clube. Se ousarem frequentar, serão vítimas no mínimo, de algum tipo de agressão física ou verbal. Quantos de nós pensou duas vezes antes de entrar no banheiro da escola? Apesar do fetiche que um banheiro masculino nos provoca, a possibilidade de levar uma porrada ou ser xingado de viado fazia, ao menos em mim, criar a habilidade de segurar o xixi por horas. Criar um banheiro exclusivo ou compartilhar o banheiro da sala de professores/as pode ser um paliativo,às vezes até necessário, para a própria segurança dos estudantes gays, lésbicas ou trans, mas para além disso, é importante que a escola discuta a sexodiversidade na escola. O problema é que quando a discussão acontece, ela é permeada pelo mesmo conservadorismo e fundamentalismo que tanto combatemos no campo da política. Nós, professores/as, não somos imunes à homofobia e muito menos às condicionalidades da cultura. Aliás,não esqueçamos que a escola é (re) produtora dessas mesmas condicionalidades. Se não reconhecer isso, se a escola decidir não fazer o debate democrático, corremos o risco de continuarmos excluindo uma parcela da população do pétreo direito à educação. 

Outro participante da conversa apresenta a opinião diferente:

Eu sou um defensor ferrenho do banheiro sem distinção de gênero. Banheiro público serve para necessidades fisiológicas que são comuns a todas as pessoas. É óbvio que separar é a solução mais fácil, mas, definitivamente, não resolve problemas que venham a surgir. Até porque, admitindo que essa separação seja uma boa ideia, como é que se vai fiscalizar se os gays usarão banheiros para gays? Vão fazer os gays usarem marcas no uniforme para identificá-los? Dizer que um banheiro exclusivo protege os gays é um absurdo sem tamanho. Com isso, estão dizendo que, para não correrem risco de serem violentados, os gays precisam estar separados dos demais, em guetos. Vai na contramão de todos os esforços que existem no sentido de fazer com que nos apoderemos dos espaços que são nossos da mesma maneira que são de todas as outras pessoas. É o mesmo que criar vagões exclusivos para mulheres em trens e metrôs para evitar o assédio. 

Certamente, no caso de pessoas homossexuais, toda essa questão parece ser mais fácil. Ser gay não me torna menos homem (como muitos acham), assim mesmo como uma lésbica não deixa de ser mulher, só pelo fato de ser homossexual. A situação se torna bem mais delicada quando pensamos no transexual e transênero. Neste sentido, acho eu, a conversa deve continuar...

Essa polêmica me levou, mais uma vez, a uma analogia. Nestes dias li uma matéria no portal católico de notícias (Agência Fides), sobre a situação dos cristãos na Síria. O Arcebispo sírio-católico Jacques Behnan Hindo disse: Os cristãos da Síria esperam que a Conferência de Genebra 2 abra para a Síria perspectivas de democracia, liberdade e igualdade. Justamente por isso, são contrários a toda tendência islâmica que pretenda impor na Síria uma Xariá [conjunto dos preceitos morais islâmicos que compõem o Corão e que orientam a vida civil e religiosa dos muçulmanos] como fonte da atual jurisdição, reduzindo a comunidade cristã à categoria de "minoria protegida". Os cristãos não podem aceitar esta involução que os reduziria ao gueto das minorias toleradas e representaria também um retrocesso no percurso histórico da nação. Na Síria, os cristãos sempre foram parte integrante da Pátria comum, cidadãos a pleno título e não "minoria". O povo sírio não quer a barbárie e a tirania fantasiadas com palavras religiosas. E entre dois males, é humano escolher sempre o menor.

No texto acima, basta substituir a palavra "cristãos" por "homossexuais" (ou "não heterossexuais") e ficará clara a nossa batalha pelos direitos. É a luta pela cidadania e não pelo gueto.

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