A luta pelos direitos da "Comunidade LGBT" tem várias faces e isso não seria tão surpreendente, afinal - como simbolicamente mostra a nossa bandeira - a diversidade é a palavra-chave. Podemos, no entanto, pensar na diversidade de objetivos, ou concentrar a nossa atenção em um só: a cidadania plena? Provavelmente sem nos darmos conta, acabamos copiando algumas iniciativas equivocadas, presentes na sociedade moderna.
Li recentemente no facebook a notícia sobre um colégio em Londrina (PR) que, a partir deste ano, terá um banheiro exclusivo para os alunos homossexuais. Como sempre acontece nas redes sociais, depois da publicação da notícia, surgiram os mais diversos comentários. Um deles parece aprovar a ideia:
Aqui
em Brasília não foram poucos os casos de constrangimento de
homossexuais e pessoas trans no uso do banheiro que chegaram até a
Coordenação de Diversidade da Secretaria de Educação. Na maior
parte das vezes, a escola não tem a menor ideia de como tratar desse
assunto. A saída, geralmente é oferecer o banheiro da sala de
professores/as para esses alunos e alunas o que acaba sendo aceito
tanto pelas famílias como pelos/as estudantes. No caso da escola do
Paraná, a decisão talvez tenha seguido o caminho mais fácil para a
direção e principalmente para os estudantes gays, mas não sei se é
a mais acertada. O banheiro, lugar de intimidade, como não poderia
deixar de ser, é um espaço (um dos poucos) para se expressar a
sexualidade na escola. É lá que acontece (ao menos no banheiro dos
meninos), as disputas de quem tem o pau maior, de quem goza primeiro.
É lá que meninos desenham seus órgãos sexuais e os das meninas
além de deixar recados cheios de erotismo, tesão e machismo nas
portas e paredes. Não deixa de ser assim, um espaço pedagógico.
Não deixa de ser assim, um espaço de construção do "macho".
Acontece que gays e trans não são bem-vindos nesse clube. Se
ousarem frequentar, serão vítimas no mínimo, de algum tipo de
agressão física ou verbal. Quantos de nós pensou duas vezes antes
de entrar no banheiro da escola? Apesar do fetiche que um banheiro
masculino nos provoca, a possibilidade de levar uma porrada ou ser
xingado de viado fazia, ao menos em mim, criar a habilidade de
segurar o xixi por horas. Criar um banheiro exclusivo ou compartilhar
o banheiro da sala de professores/as pode ser um paliativo,às vezes
até necessário, para a própria segurança dos estudantes gays,
lésbicas ou trans, mas para além disso, é importante que a escola
discuta a sexodiversidade na escola. O problema é que quando a
discussão acontece, ela é permeada pelo mesmo conservadorismo e
fundamentalismo que tanto combatemos no campo da política. Nós,
professores/as, não somos imunes à homofobia e muito menos às
condicionalidades da cultura. Aliás,não esqueçamos que a escola é
(re) produtora dessas mesmas condicionalidades. Se não reconhecer
isso, se a escola decidir não fazer o debate democrático, corremos
o risco de continuarmos excluindo uma parcela da população do
pétreo direito à educação.
Outro participante da conversa apresenta a opinião diferente:
Eu
sou um defensor ferrenho do banheiro sem distinção de gênero.
Banheiro público serve para necessidades fisiológicas que são
comuns a todas as pessoas. É óbvio que separar é a solução mais
fácil, mas, definitivamente, não resolve problemas que venham a
surgir. Até porque, admitindo que essa separação seja uma boa
ideia, como é que se vai fiscalizar se os gays usarão banheiros
para gays? Vão fazer os gays usarem marcas no uniforme para
identificá-los? Dizer que um banheiro exclusivo protege os gays é
um absurdo sem tamanho. Com isso, estão dizendo que, para não
correrem risco de serem violentados, os gays precisam estar separados
dos demais, em guetos. Vai na contramão de todos os esforços que
existem no sentido de fazer com que nos apoderemos dos espaços que
são nossos da mesma maneira que são de todas as outras pessoas. É
o mesmo que criar vagões exclusivos para mulheres em trens e metrôs
para evitar o assédio.
Certamente,
no caso de pessoas homossexuais, toda essa questão parece ser mais
fácil. Ser gay não me torna menos homem (como muitos acham), assim
mesmo como uma lésbica não deixa de ser mulher, só pelo fato de
ser homossexual. A situação se torna bem mais delicada quando
pensamos no transexual e transênero. Neste sentido, acho eu, a
conversa deve continuar...
Essa
polêmica me levou, mais uma vez, a uma analogia. Nestes dias li uma
matéria no portal católico de notícias (Agência Fides), sobre a
situação dos cristãos na Síria. O Arcebispo sírio-católico
Jacques Behnan Hindo disse: Os cristãos da Síria esperam
que a Conferência de Genebra 2 abra para a Síria perspectivas de
democracia, liberdade e igualdade. Justamente por isso, são contrários a toda tendência islâmica que pretenda impor na Síria uma Xariá [conjunto dos preceitos morais islâmicos que compõem o Corão e que orientam a vida civil e religiosa dos muçulmanos] como fonte da atual jurisdição, reduzindo a comunidade cristã à categoria de "minoria protegida". Os cristãos não podem aceitar esta involução que os reduziria ao gueto das minorias toleradas e representaria também um retrocesso no percurso histórico da nação. Na Síria, os cristãos sempre foram parte integrante da Pátria comum, cidadãos a pleno título e não "minoria". O povo sírio não quer a barbárie e a tirania fantasiadas com palavras religiosas. E entre dois males, é humano escolher sempre o menor.
No texto acima, basta substituir a palavra "cristãos" por "homossexuais" (ou "não heterossexuais") e ficará clara a nossa batalha pelos direitos. É a luta pela cidadania e não pelo gueto.
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