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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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29 de agosto de 2013

João Batista e casamento

Saint John the Baptist (Guido Reni, 1637)
Dulwich Picture Gallery, London, UK
 
 
A Igreja celebra hoje a memória do Martírio de São João Batista. Há quem diga, nesta ocasião, que os ideais pelos quais ele derramou o seu sangue, hoje em dia tenham sido ameaçados pela postura usurpadora do movimento GLBSTT em relação ao matrimônio, quer dizer, "a união entre as pessoas do mesmo sexo equiparada ao matrimônio que, por sua natureza, é a união entre homem e mulher". A lógica apresentada pela Igreja é esta: "A sociedade deve a sua sobrevivência à família fundada sobre o matrimônio. É, portanto, uma contradição equiparar à célula fundamental da sociedade o que constitui a sua negação. A consequência imediata e inevitável do reconhecimento legal das uniões homossexuais seria a redefinição do matrimônio, o qual se converteria numa instituição que, na sua essência legalmente reconhecida, perderia a referência essencial aos fatores ligados à heterossexualidade, como são, por exemplo, as funções procriadora e educadora. Se, do ponto de vista legal, o matrimônio entre duas pessoas de sexo diferente for considerado apenas como um dos matrimônios possíveis, o conceito de matrimônio sofrerá uma alteração radical, com grave prejuízo para o bem comum." (Congregação para a Doutrina da Fé, "Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais", Vaticano, 2003).
 
Interessante, porém, é o fato de ser, tranquilamente, equiparada a essa mesma "célula fundamental da sociedade", isto é, a família, tanta coisa que, também, pode ser considerada a sua negação. A própria humanidade é chamada de "família das nações", os cristãos de várias denominações são vistos como "a grande família cristã", a Igreja como "família de Deus", o Instituto das religiosas como uma "família em Cristo", sem falar de expressões mais populares, de fora do âmbito eclesial, como, por exemplo "família vascaína". É claro que trata-se apenas de interpretação de termos e expressões, mas o fenômeno em si (o de usar o mesmo nome para tantas realidades distintas) mostra que tal de "equiparação" não deve causar tanto escândalo. Pelo contrário: é, justamente, por ser a "célula fundamental da sociedade", que a família torna-se uma belíssima inspiração para muitas experiências, baseadas na convivência entre as pessoas. Se os funcionários de uma empresa chegam a dizer que o trabalho e todas as outras relações entre as pessoas lembram o clima familiar, o chefe só pode ficar satisfeito. O mesmo acontece dentro de uma escola, no clube esportivo, em qualquer equipe de trabalho, mesmo que nenhuma dessas entidades tenha "funções procriadoras". Falando nisso, vale a pena prestar atenção a um detalhe, relacionado ao Sacramento do Matrimônio. Não é verdade que - como tanta gente afirma - a procriação tenha sido a sua única, ou mesmo a mais importante finalidade e, portanto, a razão de existir. O mesmo pode ser dito sobre o ato sexual. Muitos adversários e críticos da Igreja citam essa "única razão" como prova maior da caducidade da doutrina católica sobre o Matrimônio. Há, entretanto, algo mais. O Papa João Paulo II, em sua Exortação Apostólica "Familiaris consortio", aponta quatro finalidades (deveres gerais) da família: 1) a formação de uma comunidade de pessoas;  2) o serviço à vida; 3) a participação no desenvolvimento da sociedade; 4) a participação na vida e na missão da Igreja (n. 17 e seguintes).
 
Contemplando a família composta por duas pessoas do mesmo sexo, percebemos que apenas no ponto 2) - no seu sentido mais literal possível - a sua participação (o cumprimento do dever) pode se realizar de forma diferente. O próprio texto da Exortação afirma: "A fecundidade do amor conjugal não se restringe somente à procriação dos filhos, mesmo que entendida na dimensão especificamente humana: alarga-se e enriquece-se com todos aqueles frutos da vida moral, espiritual e sobrenatural que o pai e a mãe são chamados a doar aos filhos e, através dos filhos, à Igreja e ao mundo." (n. 28).
A mesma verdade repete o Catecismo da Igreja Católica: "A fecundidade do amor conjugal se estende aos frutos da vida moral, espiritual e sobrenatural que os pais transmitem a seus filhos pela educação. Os pais são os principais e primeiros educadores de seus filhos. Neste sentido, a tarefa fundamental do Matrimônio e da família é estar a serviço da vida." (n. 1653) E acrescenta algo muito importante: "Os esposos a quem Deus não concedeu a graça de ter filhos podem, no entanto, ter uma vida conjugal cheia de sentido, humana e cristãmente falando. O seu Matrimônio pode irradiar uma fecundidade de caridade, de acolhimento e de sacrifício." (n. 1654) [obs.: as citações do CIC acima foram corrigidas, de acordo com a edição brasileira]. Embora o Código de Direito Canônico afirme que "a impotência para copular, antecedente e perpétua, absoluta ou relativa, por parte do homem ou da mulher, dirime o matrimônio por sua própria natureza" (Cân. 1084 §1), logo depois declara: "A esterilidade não proíbe nem dirime o matrimônio" (Cân. 1084 §3), ou seja, a fecundidade biológica não é a condição sine qua non do Matrimônio, e/ou da família.
 
Voltando ao santo de hoje, João Batista acusou o rei Herodes de adultério (conf. Mc 6, 17-29), quer dizer de infidelidade conjugal que, diga-se de passagem, é algo que destrói, tanto o casamento hetero, quanto homossexual. É por isso que escrevi antes: a família, por ser a "célula fundamental da sociedade", torna-se uma belíssima inspiração para muitas experiências, inclusive para a união entre as pessoas do mesmo sexo.


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