ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



_____________________________________________________________________________



27 de agosto de 2013

As lágrimas de Mônica


 
É famosa a frase do bispo Santo Ambrósio, dirigida à mãe de Santo Agostinho, Santa Mônica. É o próprio Agostinho que, em suas "Confissões", traz esta citação: "Vai-te em paz, mulher, e continua a viver assim, que não é possível que pereça o filho de tantas lágrimas". (Santo Agostinho, "Confissões", L. III, cap. XII). As lágrimas da mãe, por sua vez, aparecem quase sempre no momento daquela revelação feita pelo filho, ou filha: "Mãe, eu sou gay/lésbica". É claro que as lágrimas em si podem ter diversos motivos, tais como a comoção, tristeza, medo, decepção, raiva. Não preciso dizer que as mais esperadas seriam aquelas provocadas pela comoção, misturada com a admiração e até alegria ("Até que enfim! Eu já sabia, mas fico comovida com a coragem e a sinceridade do meu filho!"). Infelizmente, com mais frequência, misturam-se a surpresa, a decepção, a vergonha e a raiva. E não é tanto pela decepção do tipo: "Ah, eu queria tanto ter netos e agora o que eu faço?!". Nessas horas - o que comprovam os testemunhos dos filhos, bem como uma longa lista de livros e filmes - o maior argumento é a opinião dos outros, mais especificamente, a opinião sobre ela, a mãe, sobre ambos os pais e sobre toda família. Não preciso, de novo, dizer que mais aceitável seria a preocupação da mãe com a opinião alheia a respeito de seu filho, tipo: "Ai, meu Deus! Existe tanto preconceito contra os homossexuais! Como o meu filho/a minha filha vai viver neste mundo cruel?!". Na pior - e mais frequente - versão, o filho, ou filha homossexual, torna-se uma mancha na imaculada até então imagem daquela família. É a questão da vizinhança e, no caso de uma família cristã, a convivência na própria comunidade religiosa.
 
O próximo passo, depois de tal descoberta - no caso de uma mãe, ou de um pai, membro de uma comunidade cristã, mais especificamente, católica - será recorrer ao magistério da Igreja. Seja em forma de um aconselhamento feito pelo sacerdote, seja através da busca de documentos oficiais, relacionados ao assunto, muito provavelmente a mãe, ou o pai, irá encontrar as "Orientações educativas sobre o amor humano - linhas gerais para uma educação sexual", emitidas em 1983 pela Sagrada Congregação para a Educação Católica (na íntegra aqui).
 
Uma das afirmações iniciais parece encorajadora: A família, de fato é o melhor ambiente para cumprir a obrigação de garantir uma gradual educação da vida sexual. Ela tem uma carga afetiva capaz de fazer aceitar sem traumas mesmo as realidades mais delicadas e a integrá-las harmonicamente numa personalidade equilibrada e rica (n. 48).  O afeto e a confiança recíproca que se vivem na família são necessários ao desenvolvimento harmónico e equilibrado da criança desde o seu nascimento. Para que os laços afetivos naturais que unem os pais aos filhos sejam positivos no grau máximo, os pais sob a base de um sereno equilíbrio sexual, instaurem uma relação de confiança e de diálogo com os filhos, adequada à idade e desenvolvimento deles (n. 49).
 
Um pouco mais tarde aparece o que nos interessa mais: A homossexualidade, que impede à pessoa de alcançar  a sua maturidade sexual, seja do ponto de vista individual, como interpessoal, é um problema que deve ser assumido pelo sujeito e pelo educador, quando se apresentar o caso, com toda a objetividade. «Na ação pastoral estes homossexuais devem ser acolhidos com compreensão e sustentados na esperança de superar as suas dificuldades pessoais e sua desadaptação social. A sua culpabilidade será julgada com prudência; porém não se pode usar nenhum método pastoral que, julgando estes atos conformes à condição daquelas pessoas, lhes atribua uma justificação moral. Conforme a ordem moral objetiva, as relações homossexuais são atos carentes da sua regra essencial e indispensável». Será tarefa da família e do educador procurar antes de mais nada individualizar os fatores que levam à homossexualidade: descobrir se se trata de fatores fisiológicos ou psicológicos, se esta será o resultado de uma falsa educação ou da falta de uma evolução sexual normal, se provém de um hábito contraído ou de maus exemplos ou de outros fatores.  Muito particularmente, ao procurar as causas desta desordem, a família e os educadores, deverão ter em conta os elementos de juízo propostos pelo Magistério, e ao mesmo tempo servir-se do contributo que as várias disciplinas podem oferecer. Dever-se-á, de fato, levar em consideração, para avaliar, elementos de diversa índole : falta de afeto, imaturidade, impulsos obsessivos, sedução, isolamento social, depravação de costumes, licenciosidade de espetáculos e de publicações. E além de tudo isto, existe mais no profundo, a congênita fraqueza do homem, como consequência do pecado original; esta fraqueza pode levar à perda do sentido de Deus e do homem e ter suas repercussões na esfera da sexualidade. Descobertas e entendidas as causas, a família e os educadores devem proporcionar uma ajuda eficaz no processo de crescimento integral: acolhendo com compreensão, criando um clima de confiança, encorajando o indivíduo à libertação e domínio de si, promovendo um autêntico esforço moral para a conversão ao amor de Deus e do próximo; sugerindo, se for necessário, a assistência médico-psicológica de uma pessoa que atenda e respeite os ensinamentos da Igreja (n. 101-104).
 
Com outras palavras, o mesmo Magistério que, ao abordar o tema da homossexualidade, afirma que "a sua gênese psíquica continua em grande parte por explicar" (CIC, 2357), recomenda aos pais, como o primeiro passo, "procurar antes de mais nada individualizar os fatores que levam à homossexualidade" e descobrir de que se trata. "Descobertas e entendidas as causas, a família e os educadores devem proporcionar uma ajuda eficaz no processo de crescimento integral (...), encorajando o indivíduo à libertação". De qualquer maneira, o conflito interior parece inevitável. Ou a mãe/o pai seguirá a intuição do seu coração e aceitará a homossexualidade do filho/da filha, mas assim desobedecerá a ordem do Magistério, ou fará o contrário: em obediência ao Magistério deixará morrer o ingênuo amor materno/paterno em seu coração.
 
Como podemos ver, as lágrimas de Mônica podem ser provocadas de várias maneiras. Queira Deus que nenhuma mãe tenha coragem de enxugar as suas lágrimas com as lágrimas do filho, ou da filha...

Nenhum comentário:

Postar um comentário