A Santa Sé divulgou hoje, 25 de fevereiro, a Carta às Famílias, escrita pelo Papa Francisco. O texto, como tudo do Papa Francisco, é simples, objetivo e cheio de carinho. Eu leio a "Carta" com bastante esperança, lembrando de uma atenção nova e diferente da Igreja, voltada aos casais formados pelas pessoas do mesmo sexo. Talvez tenha chegado a hora de corrigir as afirmações anteriores, baseados nitidamente no medo perante o desconhecido que definiam como sendo abominável a "equiparação" das uniões homossexuais ao matrimônio e à família (escrevi sobre isso, p.ex. aqui). Como sabemos, o questionário, elaborado pelo Vaticano e enviado aos quatro cantos do mundo, aborda também o tema das uniões de pessoas do mesmo sexo, como um dos temas do próximo Sínodo dos Bispos. Falando, justamente do Sínodo, cujo tema será "Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização", o Papa Francisco faz um pedido importante: "(...) unamo-nos todos em oração para que a Igreja realize (...) um verdadeiro caminho de discernimento e adote os meios pastorais adequados para ajudarem as famílias a enfrentar os desafios atuais com a luz e a força que provêm do Evangelho". No início da "Carta", o Papa coloca-se, literalmente, à porta da casa de cada família, para conversar. Não é difícil imaginar este homem, entrando no lar formado por dois homens ou duas mulheres, assim como à mais humilde casa de uma mãe solteira ou mesmo de um casal heterossexual que vive sem o vinculo sacramental do Matrimônio. O Papa diz a cada uma dessas famílias: "Efetivamente, hoje, a Igreja é chamada a anunciar o Evangelho, enfrentando também as novas urgências pastorais que dizem respeito à família". E acrescenta: "[Jesus] é a fonte inesgotável daquele amor que vence todo o isolamento, toda a solidão, toda a tristeza". No final ainda diz: "Queridas famílias, a vossa oração pelo Sínodo dos Bispos será o tesouro precioso que enriquecerá a Igreja".
Há quem diga que não faz bem criar as expectativas, afinal trata-se de um sínodo, isto é, de uma reunião de trabalho que reunirá muitos bispos do mundo inteiro e que, em sua grande maioria, não têm a mente tão aberta quanto o Papa. Por outro lado, como disse o cardeal alemão Walter Kasper, "a Igreja não é uma democracia (...), porque, no final, quem decide é o Papa". Temos ainda outros sinais de esperança. É o pronunciamento do Secretário do Sínodo dos Bispos, o cardeal Lorenzo Baldisseri que, entre outras coisas, disse: "As respostas [ao questionário enviado pela Santa Sé aos católicos do mundo inteiro] apresentam muito sofrimento, sobretudo da parte dos que se sentem excluídos ou abandonados pela Igreja, por se encontrarem num estado de vida que não corresponde à sua doutrina e à sua disciplina". O mesmo cardeal afirmou ainda que as respostas ao questionário que já chegaram ao Vaticano (em aproximadamente 80% do total esperado), sublinham "a urgência de tomar consciência das realidades vividas pelas pessoas, de retomar o diálogo pastoral com as pessoas que se afastaram, por várias razões". E acrescenta: "A figura do Papa Francisco comprova, dia após dia, uma nova abordagem humana e cristã que faz vibrar as pessoas, dispondo-as à escuta e ao acolhimento daquilo que é bom para elas, mesmo quando há sofrimento".
Finalizo a reflexão com as palavras do próprio Papa, pronunciadas no início do recente "Consistório sobre a família", no dia 20 de fevereiro. Podemos notar facilmente que tanto o otimismo exagerado, quanto o pessimismo desesperado, não deve nos acompanhar. Antes, o realismo...
Eu diria que são dois lados da mesma moeda...
De um lado: "Nestes dias, refletiremos especialmente sobre a família que é a célula fundamental da sociedade humana. Desde o início, o Criador colocou a sua bênção sobre o homem e a mulher, para que fossem fecundos e se multiplicassem sobre a terra; e assim a família torna presente, no mundo, como que o reflexo de Deus, Uno e Trino".
Do outro lado: "Procuraremos aprofundar a teologia da família e a pastoral que devemos implementar nas condições atuais. Façamo-lo com profundidade e sem cairmos na 'casuística', porque decairia, inevitavelmente, o nível do nosso trabalho. Hoje, a família é desprezada, é maltratada, pelo que nos é pedido para reconhecermos como é belo, verdadeiro e bom, formar uma família, ser família hoje; reconhecermos como isso é indispensável para a vida do mundo, para o futuro da humanidade".
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