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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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1 de março de 2014

Meu carnaval permanente


Os dias de carnaval, pelo menos aqui, no Brasil, criam uma sensação de estarmos em algum tipo de universo paralelo. As leis, os costumes e... os problemas, em sua maioria, ficam suspensos. Nada mais é estranho, ou melhor, o mais estranho é normal. É fácil despir-se de pudores para se revestir de fantasias. É a fantasia que reina e ninguém quer saber quem é quem. Não importa. É o teatro popular, um fenômeno vivido pela humanidade desde as suas origens, com a edição talvez mais clássica, lá na Grécia antiga. A hipocrisia perde a sua conotação pejorativa, retornando aos primórdios em que colocar uma máscara era apenas a nobreza da arte, ou seja, era uma mentira autorizada e consagrada. Por aqui, depois de alguns dias, irão sobrar as toneladas de lixo, as fantasias serão guardadas para o ano que vem e a vida, aos poucos, voltará à seriedade de sempre. As pessoas voltarão a mostrar as suas caras e as suas identidades...

O meu carnaval, entretanto, não termina na quarta-feira de cinzas. Eu continuarei usando a minha fantasia. É uma máscara do homem politicamente correto, talvez um pouquinho rebelde, tipo pirracento, mesmo assim, gentil e educado, bom (ou, pelo menos, médio) cristão, um cara que se veste sem extravagância, um tanto caladão, tímido, rotineiro, previsível. E, principalmente, um sujeito assexuado, supostamente heterossexual, por ser mais óbvio e porque ninguém toca nesse assunto. Até mesmo por não ter motivo para tocar. Sim, a minha fantasia de um carnaval permanente, pode ser chamada de... armário. 

Bem, falando com sinceridade, eu já tirei a minha fantasia. Foi diante de algumas pessoas e entre elas, umas quatro, que me viram não somente sem a fantasia, mas também sem a roupa (e não estou falando de médicos). Algumas outras pessoas conseguiram enxergar através da minha fantasia e, de alguma maneira, descobriram que sou gay. Mas também não tocamos muito nesse assunto. Tipo: "sabe-se, mas não se fala".

Sinceramente, não sei até quando vou viver este carnaval. Algumas vezes já tive vontade de "chutar o pau da barraca". Outras vezes fiz ou falei coisas para provocar, mas foi como brincar com a própria máscara, fingindo querer tirá-la. E não tirei e ninguém conseguiu arrancá-la de mim.

Mas o carnaval é uma ótima oportunidade para esse tipo de reflexão.

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