“Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha." (Lc 13, 6) - Jesus começa assim a parábola, lida hoje, no sábado da XXIX semana do tempo comum. Sempre, quando me reparo com este texto, fico pensando se era comum, naquele tempo e naquela região, plantar uma figueira dentro de uma vinha (para descobrir isso, preciso de um estudo de costumes de agricultores judeus dos tempos de Jesus). Usando de antropomorfismo em relação àqueles primeiros "personagens" da parábola, tento imaginar, como se sente uma figueira naquele ambiente. Certamente há uma sensação de ser diferente: "O que é que eu estou fazendo aqui? Todo mundo está me olhando!". Será por isso que a pobre figueira não conseguia gerar frutos? A parábola continua sobre aquele homem que "tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi lá procurar figos e não encontrou". "Então disse ao agricultor: ‘Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Para que está ocupando inutilmente a terra? ’" (13, 6-7). A impaciência do homem parece confirmar o pessimismo e a tristeza da figueira. Como se ele dissesse: "Esta árvore não deveria estar aqui. Está fora do lugar. Não combina com o resto. Está ocupando inutilmente a terra". A minha "leitura existencial" do texto leva-me à reflexão sobre a experiência da maioria dos homossexuais que vivem a sensação de estar fora do lugar, de "ocupar inutilmente a terra", só por ser diferente. Esta angústia está sendo alientada constantemente por aqueles que se acham "donos do mundo". Entretanto, vem aqui, a resposta do verdadeiro dono do mundo (o próprio Jesus, representado na figura do agricultor): "‘Senhor, deixa-a ainda este ano. Vou cavar em volta e pôr adubo. Pode ser que venha a dar fruto. Se não der, então a cortarás'" (13, 8-9). O Senhor tem muita paciência para conosco. E não é apenas um ano (esta expressão, como todo o resto da parábola, tem o sentido alegórico). O Senhor cuida da gente, põe adubo, espera. Mais do que "adubo" (a sua Palavra, a sua graça, as pessoas de boa vontade, etc.), é a própria presença do Divino agricultor, que nos dá coragem e capacidade, para gerarmos frutos de amor, paz, alegria, sabedoria, perdão, criatividade... e tantos outros.
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