São Benedito, celebrado hoje, nasceu na Itália por volta do ano de 1526 no seio de família pobre, descendente de escravos oriundos da Etiópia, daí o fato de ser chamado de Benedito, o Preto ou Mouro. Uniu-se aos eremitas organizados por São Jerônimo de Lanza por desejar entregar-se a uma vida de maior perfeição cristã, já que eles viviam conforme a regra de São Francisco de Assis, tanto assim que foi a sua observância que mereceu o cargo de superior daquela corporação de eremitas. Assumiu com dedicação e responsabilidade o cargo de mestre de noviços, e terminando o seu tempo de superior, voltou com a máxima simplicidade e naturalidade para os serviços da cozinha, onde ficou até a sua morte, em 05 de abril de 1589.
A oração da Missa diz: Ó Deus, quem em são Benedito, o Negro, manifestais as vossas maravilhas, chamando à vossa Igreja homens de todos os povos, raças e nações, concedei, por sua intercessão, que todos, feitos vossos filhos e filhas pelo batismo, convivam como verdadeiros irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
A expressão “homens de todos os povos, raças e nações” chamou a minha atenção. Primeiro, fui procurar no Dicionário do Aurélio (on-line aqui). Povo s.m. Conjunto de homens que vivem em sociedade. / Conjunto de indivíduos que constituem uma nação. / Conjunto de indivíduos de uma região, cidade, vila ou aldeia. / Conjunto de pessoas que não habitam o mesmo país, mas que estão ligadas por sua origem, sua religião ou por qualquer outro laço. / Conjunto dos cidadãos de um país em relação aos governantes. / Conjunto de pessoas que pertencem à classe mais pobre, à classe operária ou à classe dos não-proprietários; plebe. / Lugarejo, aldeia, vila, pequena povoação: um povo. / Público, considerado em seu conjunto. / Multidão de gente, as massas. / Fam. Família, a gente da casa.
Daí o termo que usei no título desta postagem: “o povo GLBTS”. Ainda que existam diferenças de pensamento e de comportamento, além de certas animosidades (talvez inevitáveis por ora), sem dúvida podemos falar de um “povo”. Se, portanto, Deus quis formar a Igreja de todos os povos, obviamente, é impossível excluir dessa realidade o povo GLBTS. Quem procura fazê-lo, esta pecando contra a vontade de Deus.
Os textos oficiais da Igreja católica, naquele seu típico estilo medroso (pois vai muito além de cautela), mencionam indiretamente a existência de tal “povo”. Infelizmente, tudo o que tem de dizer nesse assunto, a Igreja faz em tom de advertência. Vejamos uns trechos da “Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre o atendimento pastoral das pessoas homossexuais”, assinada em 1986 pelo então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Joseph Ratzinger, atual Papa Bento XVI (na íntegra aqui):
(...) Um número cada vez mais largo de pessoas, mesmo dentro da Igreja, exerce fortíssima pressão para levá-la a aceitar a condição homossexual como se não fosse desordenada e a legitimar os atos homossexuais. Os que, no interior da Igreja, pressionam nesta direção, frequentemente mantêm estreita ligação com os que agem fora dela. Ora, tais grupos externos são movidos por uma visão oposta à verdade acerca da pessoa humana, verdade que nos foi revelada plenamente no mistério de Cristo. Embora de modo não de todo consciente, eles manifestam uma ideologia materialista, que nega a natureza transcendente da pessoa humana bem como a vocação sobrenatural de cada indivíduo. (...) Mesmo dentro da Igreja formou-se uma corrente, constituída por grupos de pressão com denominações diferentes e diferente amplitude, que tenta impor-se como representante de todas as pessoas homossexuais que são católicas. Na realidade, seus adeptos são, na maioria dos casos, pessoas que, ou desconhecem o ensinamento da Igreja, ou procuram subvertê-lo de alguma maneira. Tenta-se reunir sob a égide do catolicismo pessoas homossexuais que não têm a mínima intenção de abandonar o seu comportamento homossexual. Uma das táticas usadas é a de afirmar, em tom de protesto, que qualquer crítica ou reserva às pessoas homossexuais, à sua atitude ou ao seu estilo de vida, é simplesmente uma forma de injusta discriminação. Em algumas nações funciona, como consequência, uma tentativa de pura e simples manipulação da Igreja, conquistando-se o apoio dos pastores, frequentemente em boa fé, no esforço que visa mudar as normas da legislação civil. Finalidade de tal ação é ajustar esta legislação à concepção própria de tais grupos de pressão, para a qual o homossexualismo é, pelo menos, uma realidade perfeitamente inócua, quando não totalmente boa. (nn. 8-9)
Alguns grupos costumam até mesmo qualificar de «católicas» as suas organizações ou as pessoas às quais pretendem dirigir-se, mas, na realidade, não defendem nem promovem o ensinamento do Magistério; ao contrário, às vezes, atacam-no abertamente. Mesmo reafirmando a vontade de conformar sua vida ao ensinamento de Jesus, de fato os membros desses grupos abandonam o ensinamento da Sua Igreja. Este comportamento contraditório de forma alguma pode receber o apoio dos Bispos. (n. 14)
Deve ser retirado todo apoio a qualquer organização que procure subverter o ensinamento da Igreja, que seja ambígua quanto a ele ou que o transcure completamente. Tal apoio, mesmo só aparente, pode dar origem a mal-entendidos graves. Uma atenção especial deveria ser dedicada à programação de celebrações religiosas e ao uso, por parte desses grupos, de edifícios de propriedade da Igreja, inclusive a possibilidade de dispor das escolas e dos institutos católicos de estudos superiores. Para alguns, tal permissão de utilizar uma propriedade da Igreja pode parecer apenas um gesto de justiça e de caridade, mas, na realidade, ela contradiz as finalidades mesmas para as quais aquelas instituições foram fundadas, e pode ser fonte de mal-entendidos e de escândalo. (n. 17)
Para que não fiquemos totalmente desanimados, termino com outra citação. É do livro de Pe. José Lisboa “Acompanhamento de vocações homossexuais” que, partindo do principio de que “nada impede, nem mesmo uma aprovação pontifícia, que uma lei eclesiástica se torne obsoleta” (p. 72; leia também aqui), apresenta as seguintes orientações:
[Entre outros, um] caso emblemático é aquele da pessoa homossexual que decide viver a sua vocação cristã participando de um movimento de pessoas homossexuais. Quando isso acontece, o papel do animador ou da animadora vocacional é, em primeiro lugar, lembrar ao vocacionado ou vocacionada que tal participação não é algo eticamente neutro. Esse fato tem consequências, especialmente quando se trata de alguém que ocupa uma função paradigmática dentro da comunidade eclesial. Uma vez colocada essa premissa, a pessoa que acompanha quem está em discernimento precisa ajudá-lo a verificar atentamente qual a ideologia que está por trás do movimento. Será indispensável que a pessoa tome consciência do grau de liberdade que o envolvimento num movimento desse tipo deixa para os seus participantes. Às vezes a participação cm associações desse tipo, sobretudo quando são de inspiração cristã, pode ajudar a superar uma serie de dificuldades, especialmente o problema da solidão sofrida pelos homossexuais, em razão do isolamento da sociedade provocado pela discriminação e pelo preconceito. Porém, há casos de grupos fechados e desorientados, verdadeiros guetos, bastante complicados. Estes mais do que ajudar a resolver os problemas só fazem aumentar as dificuldades. Especialmente para aquelas pessoas que ainda não superaram certas dificuldades provenientes da descoberta da sua condição de homossexual.
Thévenot [Pe. Xavier Thévenot, professor de Teologia Moral no Instituto Católico de Paris] acredita que se o homossexual tem clareza da sua situação, conhece bem o ambiente, é capaz de avaliar as propostas do grupo e é suficientemente maduro para reagir a toda tentativa de manipulação e de fechamento do movimento, nada o impede de participar do mesmo. Todavia, lembra ainda esse autor, seria aconselhável que esse não fosse o único compromisso social da pessoa e que ela pudesse avaliar a sua participação com outros cristãos que não fazem parte do movimento homossexual. (pp. 78-79)
Querido, ler as citações escolhidas por você, com os seus comentários e contextualizações, está sendo tão prazeroso que estou até adiando a compra do livro, rs.
ResponderExcluirEsse trecho que vc citou refere-se a uma preocupação constante nossa no Diversidade Católica. Fazemos questão de frisar e nos lembrar, o tempo todo, que não somos nem pretendemos ser mais um gueto para "o povo LGBT", e, principalmente, não somos nem pretendemos constituir uma "Igreja" à parte. Muitos de nós são extremamente participativos e suas respectivas paroquias e muitos que nunca haviam tido uma vida paroquial ativa, passaram a tê-lo depois do ingresso no grupo.
Mais que nunca, somos católicos e, antes disso, cristãos. E, pessoalmente para mim, que sempre tive uma vida espiritual intensa, mas sem vivê-la inserida em uma comunidade, conhecer o DC me ajudou a entender por que o cristianismo só faz pleno sentido se vivido e compartilhado com os irmãos: porque é preciso por-nos a serviço, e a caminho, atentos a cada passo.
Grande beijo.
Cris
Minha amiga, Cris!
ResponderExcluirObrigado pelo comentário!
Mas confesso que, ao transcrever algo DESTE livro aqui no blog, sempre fico numa espécie de conflito interior, pois a vontade é de citar mais e mais. Realmente vale a pena ter (e divulgar) a obra do Padre José Lisboa.
Abraço!
Espero ter finalmente a graça de conhecer o Grupo (DC) pessoalmente!
Quando quiser! É só entrar em contato. :-)
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