ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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29 de março de 2014

Um "honesto" desonesto

Foto [editada] do Portal
do Ministério Público Federal

Paulo Vasconcelos Jacobina é Procurador Regional da República, Membro do Ministério Público, Bacharel em Direito e Mestre em Direito Econômico. É também autor de várias publicações profissionais e... religiosas. Em uma entrevista, concedida em 2012 ao portal "Missão Eylon", Paulo conta um pouco da história de sua conversão ao catolicismo. A conversa foi realizada na ocasião do lançamento de um dos seus livros, "Cartas a Probo", apresentado como "uma conversa cristã cobre o espiritismo". O final da entrevista merece uma atenção especial:

- [representante não assinado do portal]: Por que "Cartas a Probo"? Qual o significado do nome Probo?

- [Paulo Vasconcelos Jacobina]: Probo significa honesto, leal, no sentido de que estas cartas representam uma busca honesta e leal da verdade: são dirigidas aos que estão buscando a verdade lealmente, mesmo que em caminhos diferentes dos nossos. São um verdadeiro voto de confiança no leitor: sejamos honestos, leais no caminho da busca, e certamente Deus não deixará de nos iluminar com a Sua verdade.

É difícil não ficar admirado com tamanha apologia da honestidade, uma virtude tão rara hoje em dia. Naturalmente, espera-se que todos os textos deste autor tenham a mesma marca. Infelizmente, a admiração inicial muda de conteúdo. Continua sendo uma admiração, mas o seu sentido é negativo, torna-se um espanto. A expectativa transforma-se em decepção. Basta ler o mais recente artigo de Paulo Vasconcelos Jacobina, publicado no portal católico de notícias "Zenit" (28 de março de 2014), "Criminalizar discordâncias majoritárias sob o rótulo de fobia não é democrático".

Ainda que consigamos engolir a sua argumentação sobre a democracia, bem como a comparação (tolerável, mesmo que distante) com a situação das minorias muçulmanas no ocidente, não há possibilidade alguma de considerar honesta a sua afirmação sobre as ambições dos ativistas de "certas minorias sexuais", no contexto da luta pelo Plano Nacional de Educação. A desonestidade consiste em atribuir a estes ativistas os objetivos que, de fato, não existem, denegrindo assim a sua imagem. Certamente, como um profissional de Direito, o Procurador Regional da República e membro do Ministério Público, o autor entende a natureza e o peso de calúnia, difamação e injúria. Eis a sua tese:

Para essa militância radical, não somente a prática do incitamento a crimes contra homossexuais é considerado como "homofobia", mas qualquer posicionamento público, de cunho filosófico, científico ou religioso que não parta dos mesmos pressupostos que as minorias sexuais usam para ver-se e interpretar-se. Afirmar a possibilidade de que um ser humano controle seus impulsos sexuais, ou mesmo um simples chamado à castidade, à fidelidade, à responsabilidade com a prole e com o outro, a valorização da abertura à vida na conduta sexual, em nome de religião ou de aperfeiçoamento moral, ficariam classificados como "fala de ódio", "homofobia" e "intolerância" a serem combatidos e criminalizados pelo Estado.

Isso não é verdade, caro Doutor Jacobina! Embora não faltem indivíduos promíscuos entre as pessoas homossexuais, assim como entre as heterossexuais, nós estamos falando sobre os seres humanos que levam a sério a sua vida e o seu compromisso com a sociedade. Muitos, inclusive, vivem séria e profundamente a sua relação com Deus e com a Igreja (apesar de toda falta de acolhimento por parte da comunidade eclesial). Embora, em outra parte de sua entrevista, o senhor tenha considerado "democrático (...) aguentar não somente a discordância e até avacalhação humorística que deve ser resolvida no campo de debates francos", não tem nada de franco criar a imagem de pessoas homossexuais e de seus movimentos como inimigos de castidade, fidelidade e responsabilidade, ou como criaturas bizarras, movidas apenas por seus incontroláveis impulsos sexuais. Ainda que a nossa "conduta sexual" não possua uma natural abertura à vida (no sentido do ato de procriação), nós não desvalorizamos a própria abertura à vida, nem as pessoas que receberam este dom. Graças a Deus e graças aos avanços de democracia, os casais homoafetivos, em um número cada vez maior, têm a alegria de adotar os filhos. Posso lhe assegurar de que a responsabilidade pela prole nestas famílias supera a realidade de muitos casais heterossexuais.

A distorção de uma realidade, só por falta de conhecimento, misturada com a autêntica fobia e com a "democrática avacalhação humorística", leva muitos fanáticos aos crimes de agressão verbal e física, não raramente ao homicídio. A discriminação das pessoas homossexuais, principalmente com a base das convicções religiosas, ainda é um triste fato que, apesar dos inquestionáveis avanços da verdadeira democracia que respeita os direitos humanos, é um câncer no tecido da sociedade. O que me entristece é que os que se apresentam como honestos e leais defensores da verdade (ainda em nome de Jesus), acabam recorrendo à desonestidade para que, através de sua eloquência e de seus títulos, implantar ainda mais intolerância naqueles que se deixam levar por este tipo de discursos.
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Observação: Paulo Vasconcelos Jacobina, em seus artigos publicados no portal católico de notícias "Zenit", dedica-se quase exclusivamente aos assuntos ligados a pessoas homossexuais. Provavelmente não será um exagero imaginar o grau de sua "honestidade" ao abordar tal temática:

2 comentários:

  1. exclnte texto rapaz! excelente argumentação! espero que muita gente leia!

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  2. Realmente, os artigos estão complicados. Tio, não tenho como te defender. E mesmo que tivesse não o faria porque esses textos aí estão dignos de vergonha.

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