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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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9 de novembro de 2013

Um tom diferente

Não sei se esse fenômeno é um dos efeitos diretos do estilo (e do discurso) do Papa Francisco, mas quem costuma acompanhar os pronunciamentos dos bispos católicos, aqui no Brasil, pode notar uma suave mudança de tom. É claro, ainda não desapareceram os gritos no estilo inquisitório, mas surgem, também, as mensagens conciliadoras e - digamos - expiatórias. A confissão de culpa histórica (e atual), feita em nome de uma instituição, ainda que pelo dirigente de um nível intermediário, anima e traz a esperança. Afinal, é na tradição católica que temos o "propósito de emenda", logo depois de um "arrependimento". Quem, por sua vez, acompanha os discursos do Santo Padre, vai encontrar facilmente o eco de suas palavras no texto a seguir. É um dos artigos, publicados no site da CNBB, escrito pelo Bispo de Jales (SP), Dom Demétrio Valentini. Antes de transcrever as suas palavras, quero lembrar aqui de que foi o Dom Demétrio que, em 2010, criticou o fundamentalismo de muitos religiosos, no contexto da briga pelo 3° Plano Nacional de Direitos Humanos. De acordo com a "Folha de São Paulo", parte dos religiosos (reunidos em maio de 2010 em Brasília, na 48ª Assembleia Geral da CNBB) não aceitava que o plano de direitos humanos tratasse de questões como a profissionalização de prostitutas, a adoção de crianças por pessoas do mesmo sexo e a união civil gay. Diante disso, Dom Demétrio disse: "Tenho esperança de que prevaleça o bom senso. Tenho a esperança de que não vamos fazer um documento marcado pelo fundamentalismo".
 
 
 
No artigo "O horizonte da missão", publicado (no dia 17 de outubro deste ano) na página oficial da CNBB, Dom Demétrio escreve, entre outras coisas, o seguinte:
 
Na história houve, certamente, alguns equívocos sérios em torno da Evangelização. Dá para fazer uma importante constatação: quando a Igreja fez da evangelização uma “conquista”, impondo sobre os povos um domínio cultural e político, ela confiou no seu poderio humano, e não na força libertadora do Evangelho. Assim fazendo, ela não anunciou o Evangelho livremente, como São Paulo. Mas cobrou uma pesada conta, nem tanto em benefícios que ela recebeu, mas no prejuízo que ela provocou nos povos, a quem ela anunciou um “evangelho” deformado pela submissão exigida dos povos “conquistados”.
 
Quando a Igreja não se deixa converter pelo Evangelho que ela prega, ela acaba se pervertendo a si mesma, e aos povos por ela “submetidos” a um evangelho deturpado.
 
É diante da missão que a Igreja experimenta a absoluta necessidade de continuar se convertendo. Assim, a missão, voltada para fora da Igreja, acaba se voltando para a própria Igreja, que se torna, também ela, destinatária do Evangelho de Cristo.
 
De tal modo que, na Igreja, o chamado vem sempre ligado ao envio, a comunhão é sempre vinculada à missão. Assim a Igreja é sempre estimulada a levar aos outros o que ela mesma vive. O Evangelho anunciado precisa ser um Evangelho vivido.

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