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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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2 de novembro de 2013

A "objetividade católica"

 
Dicionário: Objetividade é a qualidade daquilo que é objetivo, externo à consciência, resultado de observação imparcial, independente das preferências individuais. No campo da ciência, objetividade é a propriedade de teorias científicas de estabelecer afirmações inequívocas que podem ser testadas independentemente dos cientistas que as propuseram. No campo do jornalismo objetividade é um atributo de um texto final. Para que um texto seja considerado objetivo, ele deve ser claro e conciso, além de apresentar um ponto de vista neutro.
 
Retorno à reflexão sobre o diálogo entre as pessoas LGBT e os católicos (ainda que nem todos do primeiro grupo tenham a vontade de participar de um diálogo semelhante e, também, ao falar de católicos, não me refiro necessariamente à Igreja enquanto instituição). De um lado temos a incrível abertura, bondade e desejo de promover a "cultura do encontro", por parte do Papa Francisco. Simultaneamente (e, muito provavelmente, em reação à postura do Papa) aparecem declarações cada vez mais diretas, antipáticas e, mesmo, hostis, relacionadas aos homossexuais e pronunciadas por aqueles que se declaram católicos fiéis, tradicionalistas, ortodoxos (ainda que o último termo nada tenha a ver com a Igreja Ortodoxa, mas trata-se do significado literal da palavra "ortodoxia", isto é, a fidelidade). Recentemente citei aqui alguns exemplos dessas declarações (1, 2, 3, 4, etc.),  inclusive com os comentários de leitores (igualmente "ortodoxos") que mostram nitidamente o efeito que elas produzem. Por enquanto é apenas um efeito verbal, mas - como nos mostra a história - o caminho entre as palavras inflamadas e atitudes agressivas é muito curto.
 
Não sou perito no direito penal, mas tenho a impressão de que alguns casos de "propaganda católica" estejam beirando o limite do crime de incitação à violência, como é o caso de equiparar a homossexualidade à pedofilia. Os profissionais afirmam que o direito positivo brasileiro cataloga como crime a incitação pública à pratica de qualquer fato delituoso, como também o é a apologia do crime, que se consubstancia na incitação ao crime. Induzir é persuadir, aconselhar, argumentar, pressupõe a iniciativa à prática e pode fazer-se por qualquer meio. Incitar é instigar, provocar, excitar a pratica do crime, por qualquer meio ou de qualquer forma, sem necessidade de sê-lo pelos meios de comunicação social ou de publicação. O crime é formal, independe do resultado ou da consequência da incitação e equipara-se à própria prática. Napoleão e Hitler, como tantos outros seres ignóbeis e cruéis, que emporcalharam a Terra, pretenderam ou ainda pretendem mudar a face do mundo, matando e violentando o homem.
 
O mais curioso - e ao mesmo tempo triste - é o fato de que os mesmos católicos que não economizam a criatividade no uso de adjetivos que expressam o seu desprezo aos homossexuais, tornam-se, repentinamente, "cordeiros levados ao matadouro", quando chega até eles qualquer crítica relacionada à Igreja. Para entender melhor essa ideia, proponho em seguida um exercício escolar. O texto original é composto de frases mais emblemáticas, tiradas do site do Padre Paulo Ricardo e de uma propaganda que recebem os assinantes daquele site.
 
Primeiro, vou transcrever a frase original:
 
Como dizia o servo de Deus Fulton Sheen, “não existem 100 pessoas que odeiam a Igreja Católica, mas existem milhões que odeiam aquilo que eles pensam ser a Igreja Católica.”
 
...em seguida, substituo o termo "Igreja Católica" por "homossexuais":
 
“não existem 100 pessoas que odeiam os homossexuais, mas existem milhões que odeiam aquilo que eles pensam ser os homossexuais.”
 
A Igreja, diga-se de passagem, contribui bastante para criar uma específica imagem dos homossexuais. Agora vai a outra afirmação (na qual, desta vez, não precisa trocar nenhuma palavra):
 
Em um mundo onde as aparências importam mais que a realidade, não são poucos os indivíduos à procura de um saber superficial, alcançado apenas para demonstrar posição social ou superioridade em relação às outras pessoas.
 
As frases seguintes são:
 
Importa apenas arrumar oportunidade para destilar um ódio quase que irracional à Igreja. Qualquer pedaço de pau serve para bater nela.
 
...e, em versão talvez ainda mais realista:
 
Importa apenas arrumar oportunidade para destilar um ódio quase que irracional aos homossexuais. Qualquer pedaço de pau serve para bater neles.
 
O texto original faz, também, referência aos estudos acadêmicos (anticlericais) e constata que, certamente, o propósito de quem estuda não seja a procura da verdade, mas a difamação e a propaganda suja. Será que não são os mesmos termos que podemos aplicar ao ponto de vista (e de ação) da maioria dos católicos (e da própria instituição), em relação aos homossexuais?
 
A observação mais curiosa está aqui: No culto secular à diversidade, nenhum preconceito é tolerado, a menos que o preconceito seja dirigido à religião – e, de modo particular, à religião cristã. Neste caso, não só é permitido ser intolerante, como a própria "classe intelectual” faz questão de estimular na juventude esta espécie de intolerância.
 
Falar de um "culto secular à diversidade"... já sabemos do que se trata. Não é, porém, a própria Igreja que faz questão de estimular a intolerância, em sua espécie particular, isto é, voltada contra os homossexuais e a sua luta pelos mais legítimos direitos?
 
Enfim, mais uma vez chego à conclusão de que o diálogo entre os católicos e as pessoas homossexuais é algo difícil-dificílimo (como diria a Valdirene da novela "Amor à vida")...

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