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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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30 de setembro de 2011

O mistério dos Anjos

A Igreja convida-nos, nestes dias, a mergulhar no mistério que só aparentemente é um conto de fadas, próprio para ser contado às crianças. Trata-se de Anjos. O Credo católico proclama Deus, o Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis. Celebramos ontem (29/09) a Festa dos Arcanjos: Miguel, Gabriel e Rafael. No próximo dia 02/10, temos a memória dos Santos Anjos da Guarda (omitida neste ano por coincidir com o domingo). Nesta ocasião, gostaria de compartilhar com Vocês uma reflexão...

Jesus disse que no Reino dos céus seremos iguais aos anjos (cf. Mt 22, 30; Mc 12, 25; Lc 20, 36). Segundo os nossos critérios de lógica, quem tem mais é superior àquele que tem menos. Na tentativa de comparação dos homens com os anjos, porém, acontece exatamente o contrário. Nós temos algo que os anjos não têm: o corpo e tudo que ele nos proporciona. Às vezes podemos pensar: "Coitadinhos desses seres espirituais. Se eles soubessem o que é que nós experimentamos e que sensações temos graças à corporeidade". E se descobrirmos que ter o corpo é uma limitação? Que, de fato - e principalmente depois do pecado original e antes da ressurreição da carne e glorificação final - o corpo nos diminui e não engrandece? Podemos ver isso através de um exemplo. Os amantes, de vez em quando, prometem "levar, um ao outro, ao céu". Com essa expressão eles estão, ao mesmo tempo, muito próximos e muito distantes da realidade. Enquanto, por um lado, nada neste mundo se compare com o gozo de um ato sexual, por outro lado, tais palavras estão beirando a blasfêmia, ainda que inconsciente. É inconsciente (e inocente) como tantas outras afirmações que fazemos, simplesmente por não termos noção do que estamos falando. Algo assim aconteceu com Pedro na hora da transfiguração de Jesus (cf. Lc 9, 33). Voltando à questão das nossas sensações que, como pensamos, os anjos não experimentam, podemos dizer que, de fato, eles não sentem o que nós sentimos, mas, certamente, sentem muito mais. Os anjos não têm as nossas sensações humanas, porque experimentam algo incomparavelmente mais elevado, sublime e profundo. Com outras palavras, aquilo que os amantes experimentam, por um instante apenas, ao serem "levados ao céu" um pelo outro, os anjos experimentam, de maneira muito mais intensa e, principalmente, duradoura de um “jeito celestial”. Seria, talvez, estranho dizer que eles vivem em um constante "super orgasmo", no entanto, o termo "gozo", é muito frequente na literatura mística da Igreja. S. Paulo diz que agora vemos confusamente, como num espelho e que então veremos face a face (cf. 1Cor, 13, 12). Em nosso contexto podemos entender o verbo "ver" no sentido mais amplo, como, por exemplo, sentir ou experimentar. Toda questão (e toda diferença) está no fato de que os anjos veem claramente e sem nenhum espelho. Isto é, experimentam a plenitude daquilo que nós temos de modo parcial e imperfeito, justamente por causa do corpo. Diferentemente da postura de desprezo em relação ao corpo à qual essa constatação levou numerosas gerações dos cristãos no passado, devemos contemplar todas as dimensões do nosso ser como um reflexo da divindade. Fomos, pois, criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26). E, ao cultivarmos a esperança da futura plenitude, desde já podemos assumir as três principais expressões angelicais: [1] a constante adoração ao Altíssimo, essencial para sua natureza, [2] a missão de proclamar a misericórdia do Senhor e [3] a tarefa de auxiliar os irmãos em suas necessidades. Pensando bem, percebemos que essas três são, na verdade, uma coisa só: o amor. Não foi por acaso, ou apenas pela beleza de expressão, que atribuíram o título de “Anjo bom da Bahia” à Irma Dulce, beatificada neste ano.

Amemos, portanto, para sermos, também nós, os anjos bons.

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