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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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25 de agosto de 2011

Vigiar

A palavra vigiar aparece com frequência no Evangelho. No contexto histórico daqueles tempos (e de muitos séculos seguintes) o termo evoca a função de vigias ou sentinelas. Hoje (no Brasil é o Dia do Soldado) imaginamos aqueles guardas que fazem patrulhamento em torno dos quartéis. De qualquer maneira, a função do vigia é ficar atento, evitar distração, concentrar toda sua atenção em questões de segurança. No Evangelho (Mt 24, 42-51), as advertências do Senhor: "Ficai atentos" e "ficai preparados", referem-se ao fim dos tempos e à vinda gloriosa de Jesus.

A comparação dessa "postura escatológica" com o comportamento dos guardas de hoje (ou das épocas passadas) pode nos levar às conclusões equivocadas. No sentido mais ou menos literal o vigilante pode justificar a sua indiferença perante, por exemplo, qualquer necessidade alheia, dizendo "não posso atendê-lo, pois tenho que vigiar". É como naquela estória contada pelos pregadores. Uma senhora havia tido um sonho no qual o próprio Jesus prometia visitá-la em casa no dia seguinte. A mulher levantou cedo e logo começou os preparativos. Arrumou a casa, trocou a toalha de mesa e até as cortinas da sala. Sempre atenta a qualquer barulho próximo à porta de entrada, dedicou grande parte do dia aos trabalhos na cozinha, preparando o que sabia fazer melhor. Por três vezes, naquele dia, alguém batia à sua porta. Mas sempre era alguém que precisava ser despedido logo para não atrapalhar. Primeiro foi um mendigo pedindo comida, depois uma vizinha querendo um pouco de sal e, finalmente, um vendedor ambulante oferecendo alguns produtos. Com a dose reduzida de paciência a mulher mandou embora cada uma daquelas pessoas dizendo que não podia dar-lhes a devida atenção porque estava esperando alguém muito importante. Assim passou o dia inteiro. Ao anoitecer, a mulher, cansada e decepcionada, foi dormir. No sonho apareceu-lhe Jesus, mas ela nem deixou o Senhor falar. Foi ela que passou o sonho inteirinho reclamando e chamando Jesus de inconsequente, incompetente, furão e malandro. Quando cansou, o Senhor lhe disse apenas: "Minha filha, eu vim, mas, por três vezes, você não permitiu que entrasse na sua casa e me mandou embora". Quando acordou, a mulher tinha compreendido que o próprio Jesus estava presente na pessoa do mendigo, da vizinha e do vendedor ambulante.

Os textos litúrgicos de hoje sugerem a mesma interpretação da palavra "vigiar". Paulo Apóstolo, na primeira leitura (1 Tes 3,7-13) fala sobre a enriquecedora convivência fraterna e a edificação mútua na fé e no amor. Jesus no Evangelho aponta a responsabilidade de uns pelos outros e denuncia à soberba, à agressividade e à falta de caridade como graves pecados contra a vigilância cristã. Em vez de dizer: "Não posso te atender, aceitar e amar porque estou esperando a vinda do Senhor!", devemos aprender a pensar e viver o contrário: "Justamente porque estou esperando a vinda do Senhor, quero te atender, aceitar e amar".

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