Reproduzo
aqui o excelente texto de David Santos, do seu blog “Culto diferente”.
PARADIGMAS,
PRECONCEITOS E NOVOS CÉUS
O
preconceito é a atitude discriminatória, baseada em juízo
preconcebido de algo ou alguém que fere diretamente um modelo
estabelecido de mundo ideal e que outrora possa ter sido a solução
para dada situação ou momento, mas que perdeu a relação com
realidade. Logo o preconceito está diretamente ligado a paradigmas e
à manutenção do status quo. Sendo assim, o preconceito nada mais é
que a exteriorização violenta e amedrontada da nossa aversão a
mudanças.
Há
uma história bíblica que exemplifica bem a relação preconceito
versus paradigma:
Samuel o profeta, foi designado por Deus para ungir um Rei para Israel, enviado a casa de Jessé, fez passar diante de si todos os filhos deste: Eram homens fortes, bonitos, inteligentes, capazes de conduzir o povo diante das guerras intermináveis com os cananeus; Aos olhos de todos, reis em potencial. Por fim, Samuel questiona se não havia nenhum outro filho, porque Deus não o havia tocado a respeito dos que tinha visto. Sim, havia mais um filho, este, sem muita importância ficou esquecido no campo junto às ovelhas que cuidava.
Davi
era pequeno, magro, ligado às artes, poeta e músico, de coração
sensível, estava mais para “bobo da corte” que para Rei.
Mandaram chamá-lo, e quando este chegou a Samuel, Deus disse: Este é
o Rei! [I Samuel 16]. Samuel então questiona a Deus, sobre o
“absurdo” que estava fazendo, ao que recebe de resposta: “O
Senhor não vê como o homem, o homem vê a aparência, mas o Senhor
vê o coração”.
O
que Samuel não percebeu é que Deus estava quebrando paradigmas e
com isso o preconceito que havia no coração do profeta e do povo.
Eles conheciam Saul, o atual Rei, que tinha tudo o que os reis dos
povos vizinhos tinham, era o estereótipo de rei bem-sucedido, o
modelo ideal, mas que representava um tempo passado, algo que para o
atual momento era antiquado e impedia-os de ter experiências mais
profundas com Deus.
E
assim, Deus estava dizendo a Israel, “vamos mudar as coisas por
aqui”, está na hora de viver coisas diferentes, experimentar o
novo, façamos loucuras em favor da vida abundante, “a virgem dará
luz a uma criança” e nunca mais o mundo será o mesmo. [Isaías
7:14; Isaías 43:19-21]
E
no decorrer da história, podem-se observar várias outras situações
parecidas, onde pela fé, homens e mulheres mudaram o status quo,
quebrando paradigmas em favor da vida e construindo um novo mundo
[Hebreus 11:32-40].
O
próprio Jesus era exímio em quebrar paradigmas, em mudar a ordem
das coisas, seu discurso era desafiador, dizia: “Ouviste o que foi
dito, mas eu, porém vos digo (...)”, por isso sofreu preconceito
por parte dos lideres religiosos da época, sendo perseguido e morto.
É
evidente que todos nós temos preconceitos, em maior ou menor
intensidade, vivemos envoltos em paradigmas. E quando o Apostolo
Paulo nos exorta a não julgarmos, ele o faz tendo em mente todas as
variáveis da vida, pois, nosso julgamento preconcebido, pode estar
intoxicado por um paradigma, que nem ao menos temos a noção de que
existe ou que esteja lá [Mateus 15: 19-20].
E
como podemos estreitar nossos afetos e relacionamentos, se estivermos
atormentados pelo preconceito?
O
preconceito tem origem no medo, o medo produz tormento, e
atormentados, teremos atitudes de defesa, agredindo o outro, agindo
pela lei do “olho por olho e dente por dente”, logo, não seremos
aperfeiçoados no amor [I João
4:18-21].
Quem
tem preconceito com negros, é infeliz porque eles deixaram de ser
escravos, acredita ainda que são pessoas inferiores e por isso devem
ficar excluídos da sociedade. Os homens tem medo da emancipação
das mulheres, temem que elas assumam o controle que eles acreditam
possuir, assim, se tornam machistas, na ânsia de defender o seu
lugar, diminuem, agridem, excluem. Temem que assegurando os direitos
civis aos homossexuais, de forma sobrenatural, todos os héteros se
transformem em gays, e assim, acabe a família, e toda a estrutura
social que conhecemos hoje. E a lista não termina: estrangeiros,
pessoas com deficiência, nativos de determinada região, gêneros
musicais, lembra-se do rock a “música
do diabo”, do axé, e do funk carioca, tão discriminado, hoje
música
de “elite”.
Também,
entre os próprios cristãos: católicos, protestantes históricos,
tradicionais, reformados, pentecostais, avivalistas, neopentecostais;
todos a seu modo, temem a mudança do status quo, temem a ruptura com
o paradigma que criaram, pois assim, podem perdem seu lugar de poder,
perdem sua hegemonia.
Logo,
precisamos de um novo discurso, sobretudo de uma nova práxis, para
um novo tempo. Um discurso que reconhece que a verdade nunca foi
absoluta, mas que dialoga com o tempo, cultura e experiências de
vida.
E
como conselho dado a crianças, exorto, tenha em ti o mesmo espírito
que houve em Cristo, enfrente seus medos, enfrente seus preconceitos,
quebre paradigmas, mude o estado das coisas: quebre o sábado, não
apedreje mesmo que a lei ordene isso, fuja da hipocrisia de uma
santidade fingida, para que o Reino seja estabelecido.
Este
é o novo de Deus, novos relacionamentos,
novos afetos. Não tema ser reconhecido como amigo dos pecadores, não
tema ser reconhecido como cristão, até que haja novos céus e nova
terra onde reine a justiça, a paz e a alegria.
Este
texto foi escrito com base numa conversa realizada com os JBZL
(Jovens Betesda Zona Leste), sobre o tema: "Só os
preconceituosos herdarão o Reino de Deus" capítulo
do livro de Elienai Cabral Junior - “E se alguém acender a Luz”.