ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



_____________________________________________________________________________



16 de abril de 2014

Paradigmas, preconceitos e novos céus

Reproduzo aqui o excelente texto de David Santos, do seu blog “Culto diferente”.


PARADIGMAS, PRECONCEITOS E NOVOS CÉUS


O preconceito é a atitude discriminatória, baseada em juízo preconcebido de algo ou alguém que fere diretamente um modelo estabelecido de mundo ideal e que outrora possa ter sido a solução para dada situação ou momento, mas que perdeu a relação com realidade. Logo o preconceito está diretamente ligado a paradigmas e à manutenção do status quo. Sendo assim, o preconceito nada mais é que a exteriorização violenta e amedrontada da nossa aversão a mudanças.

Há uma história bíblica que exemplifica bem a relação preconceito versus paradigma:

Samuel o profeta, foi designado por Deus para ungir um Rei para Israel, enviado a casa de Jessé, fez passar diante de si todos os filhos deste: Eram homens fortes, bonitos, inteligentes, capazes de conduzir o povo diante das guerras intermináveis com os cananeus; Aos olhos de todos, reis em potencial. Por fim, Samuel questiona se não havia nenhum outro filho, porque Deus não o havia tocado a respeito dos que tinha visto. Sim, havia mais um filho, este, sem muita importância ficou esquecido no campo junto às ovelhas que cuidava.

Davi era pequeno, magro, ligado às artes, poeta e músico, de coração sensível, estava mais para “bobo da corte” que para Rei. Mandaram chamá-lo, e quando este chegou a Samuel, Deus disse: Este é o Rei! [I Samuel 16]. Samuel então questiona a Deus, sobre o “absurdo” que estava fazendo, ao que recebe de resposta: “O Senhor não vê como o homem, o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração”.

O que Samuel não percebeu é que Deus estava quebrando paradigmas e com isso o preconceito que havia no coração do profeta e do povo. Eles conheciam Saul, o atual Rei, que tinha tudo o que os reis dos povos vizinhos tinham, era o estereótipo de rei bem-sucedido, o modelo ideal, mas que representava um tempo passado, algo que para o atual momento era antiquado e impedia-os de ter experiências mais profundas com Deus.

E assim, Deus estava dizendo a Israel, “vamos mudar as coisas por aqui”, está na hora de viver coisas diferentes, experimentar o novo, façamos loucuras em favor da vida abundante, “a virgem dará luz a uma criança” e nunca mais o mundo será o mesmo. [Isaías 7:14; Isaías 43:19-21]

E no decorrer da história, podem-se observar várias outras situações parecidas, onde pela fé, homens e mulheres mudaram o status quo, quebrando paradigmas em favor da vida e construindo um novo mundo [Hebreus 11:32-40].

O próprio Jesus era exímio em quebrar paradigmas, em mudar a ordem das coisas, seu discurso era desafiador, dizia: “Ouviste o que foi dito, mas eu, porém vos digo (...)”, por isso sofreu preconceito por parte dos lideres religiosos da época, sendo perseguido e morto.

É evidente que todos nós temos preconceitos, em maior ou menor intensidade, vivemos envoltos em paradigmas. E quando o Apostolo Paulo nos exorta a não julgarmos, ele o faz tendo em mente todas as variáveis da vida, pois, nosso julgamento preconcebido, pode estar intoxicado por um paradigma, que nem ao menos temos a noção de que existe ou que esteja lá [Mateus 15: 19-20].

E como podemos estreitar nossos afetos e relacionamentos, se estivermos atormentados pelo preconceito?

O preconceito tem origem no medo, o medo produz tormento, e atormentados, teremos atitudes de defesa, agredindo o outro, agindo pela lei do “olho por olho e dente por dente”, logo, não seremos aperfeiçoados no amor [I João 4:18-21].

Quem tem preconceito com negros, é infeliz porque eles deixaram de ser escravos, acredita ainda que são pessoas inferiores e por isso devem ficar excluídos da sociedade. Os homens tem medo da emancipação das mulheres, temem que elas assumam o controle que eles acreditam possuir, assim, se tornam machistas, na ânsia de defender o seu lugar, diminuem, agridem, excluem. Temem que assegurando os direitos civis aos homossexuais, de forma sobrenatural, todos os héteros se transformem em gays, e assim, acabe a família, e toda a estrutura social que conhecemos hoje. E a lista não termina: estrangeiros, pessoas com deficiência, nativos de determinada região, gêneros musicais, lembra-se do rock a “música do diabo”, do axé, e do funk carioca, tão discriminado, hoje música de “elite”.

Também, entre os próprios cristãos: católicos, protestantes históricos, tradicionais, reformados, pentecostais, avivalistas, neopentecostais; todos a seu modo, temem a mudança do status quo, temem a ruptura com o paradigma que criaram, pois assim, podem perdem seu lugar de poder, perdem sua hegemonia.

Logo, precisamos de um novo discurso, sobretudo de uma nova práxis, para um novo tempo. Um discurso que reconhece que a verdade nunca foi absoluta, mas que dialoga com o tempo, cultura e experiências de vida.

E como conselho dado a crianças, exorto, tenha em ti o mesmo espírito que houve em Cristo, enfrente seus medos, enfrente seus preconceitos, quebre paradigmas, mude o estado das coisas: quebre o sábado, não apedreje mesmo que a lei ordene isso, fuja da hipocrisia de uma santidade fingida, para que o Reino seja estabelecido.

Este é o novo de Deus, novos relacionamentos, novos afetos. Não tema ser reconhecido como amigo dos pecadores, não tema ser reconhecido como cristão, até que haja novos céus e nova terra onde reine a justiça, a paz e a alegria.

Este texto foi escrito com base numa conversa realizada com os JBZL (Jovens Betesda Zona Leste), sobre o tema: "Só os preconceituosos herdarão o Reino de Deus" capítulo do livro de Elienai Cabral Junior - “E se alguém acender a Luz”.

11 de abril de 2014

Uma parábola cinematográfica


O filme "Heterofobia" é chocante. E "chocante", enquanto um termo, tem dois lados, assim como uma moeda. O filme é chocante de tão real. Um dos melhores métodos pedagógicos é fazer com que a pessoa se veja no lugar do outro. Somente assim tem a possibilidade real de conhecer e compreender o outro. O filme, de uma maneira inédita e nada banal, faz isso e alcança um nível que, lamentavelmente, muitos não alcançam. Basta ler os (mais de 2.500) comentários no facebook. É por isso, também, que o filme é chocante. Várias pessoas se manifestaram chocadas, a partir de uma perspectiva de quem não entendeu nada. Essas pessoas, certamente, nunca irão ler as obras de Kafka, nem apreciar a arte de Picasso, ou Salvador Dalí. O mesmo aconteceu com as parábolas de Jesus. Muitos não entenderam (e não entendem até hoje). Outros entenderam bem, mas foi por isso que o crucificaram... Recomendo o filme e continuo torcendo e orando que muitos consigam compreender a sua mensagem. E que surta efeitos!