ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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3 de novembro de 2013

Entre a cruz e o arco-íris

 
O título do livro de Marília Camargo César faz alusão à expressão "entre a cruz e a espada" e situa-se, de fato, no espaço intermediário que divide as duas realidades, neste caso, a religião cristã e o mundo LGBT. Talvez mais uma frase idiomática ajude a definir o livro: "em cima do muro". A primeira impressão que me ocorreu durante e depois da leitura é que a autora está em cima do muro o que não precisa ser entendido como uma crítica. Ela simplesmente não "puxa sardinha para o seu lado" (para usar mais uma expressão popular), porque não existe o lado dela, nesta questão. Existe sim, mas não pertence ao duelo "Igreja (s) & LGBT". O lado dela é o ser humano, sem outros adjetivos, títulos e sobrenomes. Marília repete várias vezes, nas páginas deste livro, a sua humilde confissão: "eu não sabia... eu precisava estudar, ouvir, ler, estar junto..". Provavelmente essa tenha sido a maior lição da obra que, por sua vez, deixa no ar um sabor de algo incompleto. Também neste caso não é uma crítica, porque o mergulho no mistério do ser humano, em sua religiosidade e sua sexualidade, nunca poderá ser completo, pois trata-se de profundezas impenetráveis por inteiro. Podem e devem ser tocadas essas profundezas e ainda trazidas a um encontro, por mais que tal encontro pareça impossível, ou inútil. Este livro é uma espécie de abre-alas. É, também, mais um livro na minha estante, ao lado de outros autores, como Edith Modesto, James Alison, José Lisboa, José Trasferetti, Klecius Borges, James L. Empereur, Kimeron N. Hardin, Didier Eribon, Nelson Luiz de Carvalho, Betty Fairchild e Nancy Hayward, Márcio El-Jaick, Jean Luc Schwab, Felipe Alface, Daniel A. Helminiak, Amílcar Torrão Filho, M. A. Prado e F. Machado e alguns outros. Faz parte, como todos os outros, da tentativa de estabelecer um diálogo, um conhecimento mútuo, afim de preparar o terreno para futura convivência mais respeitosa e acolhedora.
 
Para quem está acostumado com o pensamento católico, o livro "Entre a cruz e o arco-íris" ajudará compreender um pouco mais a doutrina protestante, pois este é um dos pontos de partida da autora. Pode servir também de inspiração para um trabalho paralelo que inclua os teólogos católicos.
 
Concordo com a opinião de David Santos, autor do blog "Culto diferente" que diz:
 
Minha critica em relação a ele, deve-se ao fato de que, como sempre, os debates resumem-se apenas à cama, não se leva em conta que heterossexuais se unem em matrimonio por muito mais motivos que apenas o sexo, homossexuais também!!  Faltou relatos de casais homoafetivos, cuja união seja consistente como as idealizadas pela igreja, e que conseguem equilibrar sexualidade e religião. Assim como a autora, devia possuir seus preconceitos pelo desconhecimento, a sociedade precisa também saber que há homossexuais que, como muitos heterossexuais, não são promíscuos e querem viver uma vida moralmente sadia em seus relacionamentos. A falta de conhecimento, ainda é a maior fonte de preconceitos!!
 
Por sua vez, Sérgio Viula, um dos entrevistados no livro (e um sábio que tive a honra de conhecer pessoalmente neste ano), em seu blog "Fora do armário", afirma:
 
O livro tem a seu favor duas coisas, pelo menos:
 
1. A tentativa de dar voz as dois lados (ou mais): gente religiosa (a maioria) ou não (como o meu caso); sejam contra ou a favor; gente que é LGBT, e nega-se; gente que é LGBT, e afirma-se com reservas; gente que é LGBT, e afirma-se sem medo de ser feliz; e gente que jamais soube o que é ser LGBT, mas mesmo assim não para de fiscalizar a sexualidade alheia;
 
2. O livro identifica ideias, acontecimentos, comportamentos, mudanças em relação ao tema ao longo da história, tocando em religião (e ausência dela), psicologia, política, estatísticas, testemunhos pessoais de conversão, “des-conversão”, ex-gays, ex-ex-gays, suicídios e crimes motivados por homo-transfobia e seus efeitos, entre outras coisas. Tem muita informação bem sistematizada, tanto do passado como do presente.
 
Bem, vale a pena ler – não como manual de fé e prática. Chega disso!!!! Mas como fonte de conhecimento sobre diversas facetas da mesma questão: a recriminação dos que se arvoram representantes de Deus, da família, dos bons costumes, e os avanços dos direitos humanos na forma dos direitos civis dessas minorias, por tanto tempo discriminadas, renegadas, mal-compreendidas. Apesar do livro cutucar o Movimento LGBT em diversos momentos, não deixa barato para os fundamentalistas.

4 comentários:

  1. Parabéns, excelente texto e analise. Obrigado pela citação e pela visita.
    Abraço.

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    1. Q fofo, David !!!
      Eu que agradeço pela visita! Espero vê-lo com frequência por aqui!

      Grande abraço!

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  2. Ouvi falar muito pouco sobre o livro e ainda não tinha tido um devido tempo para mensurá-lo em minhas leituras, mas, após está análise, feita por ti, sobre o mesmo, me sinto muito mais instigado a devorá-lo.
    Obrigado pelas belas palavras.

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  3. Apaixonado pela leitura como sou, recebi hoje em um email de um amigo a indicação desta leitura. Confesso que já havia ouvido falar da mesma, pouco, mas havia. Tão pouco que nem mesmo a mensurei em minhas jornadas literárias. No entanto, passeando pelos seus textos, como faço de costume, me deparei com sua análise, texto muito reflexivo e instigante que de impacto me enamorou e presenteou com o desejo de tê-lo em minhas mãos.
    Obrigado.

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